Não é de hoje que grandes editoras de quadrinhos acabam relegando seus personagens ao esquecimento. Sempre focada nas vendas, empresas como Marvel e DC sempre privilegiaram alguns de seus herois mais famosos e populares, como o Homem-Aranha e o Batman, em detrimento de outros, como Howard o Pato. Mas há aqueles que acabam dependendo de seus roteiristas para medir seu nível de sucesso, oscilando várias vezes entre obras de péssima qualidade e verdadeiros clássicos.
Um desses personagens com histórico de publicações irregular é Matt Murdock, o Demolidor. Estreando em 1964, o advogado cego alcançou tempos de glória nos anos 70, quando teve uma ótima fase escrita pelas mãos de Frank Miller (ainda genial naquela época), e após uma sequencia péssima acabou tendo sua revista cancelada. O heroi ainda conseguiu algum sucesso nos anos 90 com Kevin Smith nos roteiros de sua passagem no selo Marvel Knights, mas com a saída do escritor o Demolidor foi relegado ao segundo plano.
A Marvel, porém, não esqueceu do Homem sem Medo, e depois de sucessivas tentativas conseguiu emplacar uma revista que conseguiu trazê-lo de volta aos tempos de glória. Trata-se da mensal Demolidor, escrita por Mark Waid e desenhada por Paolo Rivera, onde o heroi, agora com maior liberdade de criação (já que não é mais destaque da editora), recebe vários experientalismos narrativos.
Acostumado a contar histórias sem complicar demais, os roteiros de Mark Waid para o Demolidor são, ainda que com tramas adultas e inteligentes, claramente influenciadas pelo ritmo de uma típica revistinha dos anos 60. O maior foco do escritor, porém, é corrigir o comportamento de Matt Murdock, abalado recentemente pela saga Terra das Sombras, onde o personagem foi dominado por entidades maléficas, e os problemas criados pelos roteiristas anteriores, que revelaram a identidade do Homem sem Medo. Waid resolve então encarar com bom humor esses problemas, e orienta Murdock a ajudar seus clientes a se defenderem sozinhos no tribunal, transformando-o num verdadeiro heroi dos oprimidos.
Os desenhos de Paolo Rivera, porém, são o grande diferencial da série. Simples e fino, o traço do desenhista é quase cinematográfico em vários momentos, tornando onomatopeias corredores e mostrando a visão do Demolidor como ondas circulares por exemplo. A arte agradável traz ao leitor as sensações de Murdock com relação ao mundo, em especial na edição 7, onde o advogado leva seu parceiro de negócios Nelson para um passeio por Nova York e começa a descrever o que sente, cheira e tateia na cidade.
Ganhador de vários prêmios Eisner, incluindo melhor escritor e melhor série, Demolidor não serve apenas como um recomeço ao personagem como também cria novos caminhos para o heroi. Finalmente em boas mãos, o futuro de Matt Murdock no universo Marvel ainda é uma incógnita, mas pode-se afirmar com toda certeza que dificilmente o veremos novamente no fundo do poço, onde ele nunca deveria ter estado em primeiro lugar.
0 comentários :
Postar um comentário