O pessoal que ficou de fora da grande festa do cinema estadunidense.
Por Pedro Strazza.
Como qualquer outro prêmio disposto a consagrar nomes e obras que marcam o ano, o Oscar não é capaz de englobar todas as produções que pipocam na temporada. Para cada La La Land, Moonlight, A Chegada e suas inúmeras indicações, vários filmes acabam morrendo na praia durante a longa e já tradicional temporada de premiações. São os famosos esnobados do Oscar, aqueles que os votantes esqueceram de acrescentar ou simplesmente não acharam o espaço na cartela de votação para colocá-los entre seus melhores.
Em 2017, esse cenário se repete. As onze produções, atores e atrizes mencionadas abaixo em algum momento ganharam reputação suficiente para almejar um lugar na lista de indicados da 89° edição do Oscar, mas terminaram a corrida sem nada nas mãos além de vãs esperanças frustradas. O esquecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, porém, não se repete aqui.
No In Memoriam da temporada do Oscar 2017 temos:
Talvez a ausência mais sentida por todos este ano, a queda de Amy Adams na categoria de Melhor Atriz é um fenômeno dos mais bizarros. A atriz é sem dúvida a força maior de A Chegada, que conquistou nomeações em quase todas as outras categorias para ficar de fora da que lhe era mais fundamental. Pessoalmente acho o filme superestimado (ainda mais para oito nomeações), mas Adams de fato merecia seu lugar na premiação.
Foi um ano bastante cheio para a categoria de Melhor Documentário, o que por consequência resultou numa categoria forte e muito política - três das obras indicadas envolvem a questão racial e um (Fogo no Mar) trata da imigração, bom lembrar. Ainda assim, fica a tristeza de ver um documentário tão curioso e inusitado como o Cameraperson de Kirsten Johnson de fora da disputa, pois ele traz problematizações bacanas sobre o gênero e o ato de registrar a realidade.
Aquarius já tinha morrido na temporada há muito tempo, mas até ontem alguns ainda carregavam a esperança de ver o sul-coreano A Criada em algumas das categorias técnicas do Oscar. O que muito provavelmente frustrou as chances do longa de Park Chan-wook foi que ele não foi escolhido como representante do país na disputa de Melhor Filme Estrangeiro (a Coréia do Sul decidiu submeter The Age of Shadows), ao passo que a campanha de seus admiradores não foi suficiente para carregar o longa até onde precisava.
Convenhamos, por um momento ali o filme do anti-herói nada convencional teve chances de chegar no prêmio mais importante da indústria hollywoodiana. As inesperadas lembranças ao filme de Tim Miller nos importantes sindicatos dos produtores, roteiristas e diretores catapultaram Deadpool ao impensável status de possível finalista no Oscar de Melhor Filme. Tudo não passou de sonho e no fim das contas os filmes de super-herói que chegaram no Oscar foram Esquadrão Suicida (RISOS!) e Doutor Estranho, mas... quem diria.
- Hugh Grant (Florence - Quem é Essa Mulher?)
Além de A Chegada, outro filme que passou (em menor grau) pelo processo "indicado para tudo menos no que importa" foi a cinebiografia da cantora Florence Foster Jenkins. O filme dirigido por Stephen Frears conquistou nomeações em Melhor Atriz para Meryl Streep (em sua 20° participação na premiação) e Figurino, mas ficou de fora em Ator Coadjuvante com Hugh Grant. A culpa talvez seja porque o ator não é mais tão querido dos votantes, talvez porque a categoria esteja um pouco lotada esse ano - o que não explica Michael Shannon lembrado por Animais Noturnos, porém.
Se há um filme que melhor representa a categoria dos esnobados este ano é com certeza O Nascimento de uma Nação. Ovacionado no Festival de Sundance do ano passado, comprado por um valor altíssimo pela Fox Searchlight e no início da corrida o favorito absoluto ao prêmio de Melhor Filme, o filme sobre a revolução violenta de escravos nos Estados Unidos escravocrata aos poucos foi perdendo força conforme ressurgia na mídia um antigo caso de estupro por parte de seu diretor, Nate Parker. Uma morte horrível para um candidato mediano e que em sua queda mais pareceu um gigantesco Ícaro na temporada, mas pelo menos ele não obstruiu a forte presença negra na premiação este ano.
Paterson nunca chegou a ser um nome na disputa de Melhor Ator, mas os fãs do diretor Jim Jarmusch sempre estão aí fazendo campanha para que seus filmes entrem no Oscar e ele seja devidamente reconhecido pela indústria. Azar de Adam Driver, que apesar da ótima atuação como motorista de ônibus não conseguiu entrar na disputa.
Se no ano passado a Pixar tinha Divertida Mente para ocultar o fracasso de O Bom Dinossauro nas premiações, em 2017 restou à dupla indicação em Melhor Animação em Curta-Metragem (com o simpático Piper - Descobrindo o Mundo e o fraco Borrowed Time) para fazer o público esquecer da ausência de Procurando Dory na categoria principal. Ultrapassado por trabalhos estrangeiros e animações da sua vizinha e dona Disney, a continuação das aventuras de Marlin, Nemo e Dory no fim ficou só com os bons resultados de bilheteria.
- Sing Street - Música e Sonho
A grande ausência em Melhor Canção este ano é sem dúvida o mais recente trabalho do diretor John Carney, que pela primeira vez na carreira não chega à categoria. A simpática história de uma banda colegial irlandesa acabou de fora graças à surpreendente nomeação de Trolls e a dupla entrada de La La Land.
Não está fácil a vida de Tom Hanks no Oscar. Depois de ter levado dois Oscar nos anos 90, o sexagenário ator não conseguiu emplacar mais uma indicação no prêmio, estando desde 2001 (quando foi lembrado por seu trabalho em O Náufrago) a ver navios nas temporadas de premiação. Paul Greengrass não conseguiu trazê-lo de volta em 2014, Steven Spielberg fracassou em levá-lo em 2016 e nem mesmo Clint Eastwood foi capaz de torná-lo um ator indicado ao Oscar este ano. Uma pena para Sully, ótimo filme que ficou no fim como uma nomeação singela em Melhor Edição de Som.
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