sábado, 28 de maio de 2016

Crítica: Jogo do Dinheiro

Suspense dirigido por Jodie Foster tem boas intenções, mas sofre de ingenuidade.

De início soa como algo inusitado que Jogo do Dinheiro, filme de hostage situation no contexto do pós-crise e do auge do jornalismo midiático, seja dirigido por Jodie Foster, cineasta consolidada pela carreira de atriz que na função de comando só mostrou maior interesse nas possibilidades dramáticas de atuação oferecidas a seu elenco em longas como o bom Um Novo Despertar ou em seus trabalhos nas séries Orange is the New Black e House of Cards. É claro que a produção tem muito a oferecer à diretora se considerar a evolução natural deste seu lado da carreira, em meio a tantas reviravoltas e situações de tensão apresentadas, mas o que ela tem a oferecer à obra é no fundo a questão mais intrigante a ser respondida aqui.

Escrito por Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf, o longa se passa quase que inteiramente dentro do estúdio onde é gravado Money Monster, programa televisivo diário e ao vivo de finanças e bolsa de valores apresentado por Lee Gates (George Clooney), um desses "magos" do mercado, e dirigido por Patty Fenn (Julia Roberts). Em um dia normal de filmagens, a atração é invadida por Kyle Budwell (Jack O'Connell), um jovem que perdeu tudo na Bolsa graças às previsões feitas por Gates e que agora quer respostas dele, tomando como refém a produção e obrigando o show a continuar até ter suas vontades saciadas.

Esse lado sensacionalista da trama não demora a ser utilizado por Foster no filme, que alinha cortes rápidos e planos aproveitados pelas câmeras do estúdio para transportar o espectador para dentro do circo midiático que o caso logo se tornará. Nesse quesito a diretora está confortável, providenciando no cenário todo o espaço necessário para os atores: enquanto Clooney e Roberts se bastam em repetir na obra seus perfis costumeiros (ele de adulto meninão, ela de figura responsável), O'Connell e o resto do elenco buscam tirar de seus papéis o máximo, empregando - principalmente ele, com suas constantes explosões de fúria - aquela performance de intensidade conhecida de quem busca se destacar a todo instante possível.

Mas se nessas questões mais elementares da cineasta o longa está aconchegado em estabelecer suas bases, nas outras ele se perde em resoluções confusas ou perdidas em uma ingenuidade palpável. Porque se Jogo do Dinheiro a princípio parece apontar a um plano crítico mais geral da situação, sem tirar do foco a culpabilidade do espetáculo da televisão no sofrimento econômico imposto a Kyle (algo que vem, claro, da influência cada vez mais presente dos acontecimentos posteriores à crise de 2008 no cinema estadunidense), ele também não esconde sua propensão a trabalhar a história pelo próprio viés de circo midiático, que pela ótica de Foster acaba por ganhar contornos de algo quase positivo em seu aparente combate às grandes corporações e a empresários como o Walt Camby (Dominic West) da trama. O filme não consegue obter um equilíbrio a partir desses dois elementos, e o resultado por consequência sai torto.

Esse enfoque glorificante do jornalismo midiático, que ocupa maior espaço no terceiro ato e tira forças dos relances do público que acompanha o caso, prejudica ao mesmo tempo outro equilíbrio vital ao longa, o entre o suspense inerente ao sequestro e os respiros cômicos providenciados no roteiro de Linden, DiFiore e Kouf. Além de escancarar as tentativas de comprovação de uma fabricação da realidade (a revelação posterior dos explosivos) e de contribuir para tornar alguns dos momentos da história comicamente irreais (este deve ser o sequestro televisionado ao vivo mais aborrecido da História, já que muitas vezes nada acontece diante da câmera), essa falta de balanço entre mergulhos de tensão e alívios decorrentes afasta o público, impedindo-o de se enveredar pelas mudanças de rumo programas e executadas.

E se Jogo do Dinheiro soa limitado como exercício de gênero e problemático na análise da realidade, o que sobra? Foster é capaz de manter o filme coeso durante toda a sua projeção, tornando sua estrutura atraente do começo ao fim sem perder o compasso ritmado ao qual se submete e escondendo ao máximo as ingenuidades decorrentes pelos momentos dramáticos obtidos e explorados como possível, mas fica claro que conforme a situação se resolva e a história se encerre o espectador se comporte como o moço na mesa de pebolim do longa, que para de jogar para acompanhar o caso mas volta à sua descontração após ter conhecimento da resolução.

Nota: 4/10

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