Suspense dirigido por Jodie Foster tem boas intenções, mas sofre de ingenuidade.
De início soa como algo inusitado que Jogo do Dinheiro, filme de hostage situation no contexto do pós-crise e do auge do jornalismo midiático, seja dirigido por Jodie Foster, cineasta consolidada pela carreira de atriz que na função de comando só mostrou maior interesse nas possibilidades dramáticas de atuação oferecidas a seu elenco em longas como o bom Um Novo Despertar ou em seus trabalhos nas séries Orange is the New Black e House of Cards. É claro que a produção tem muito a oferecer à diretora se considerar a evolução natural deste seu lado da carreira, em meio a tantas reviravoltas e situações de tensão apresentadas, mas o que ela tem a oferecer à obra é no fundo a questão mais intrigante a ser respondida aqui.
Escrito por Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf, o longa se passa quase que inteiramente dentro do estúdio onde é gravado Money Monster, programa televisivo diário e ao vivo de finanças e bolsa de valores apresentado por Lee Gates (George Clooney), um desses "magos" do mercado, e dirigido por Patty Fenn (Julia Roberts). Em um dia normal de filmagens, a atração é invadida por Kyle Budwell (Jack O'Connell), um jovem que perdeu tudo na Bolsa graças às previsões feitas por Gates e que agora quer respostas dele, tomando como refém a produção e obrigando o show a continuar até ter suas vontades saciadas.
Esse lado sensacionalista da trama não demora a ser utilizado por Foster no filme, que alinha cortes rápidos e planos aproveitados pelas câmeras do estúdio para transportar o espectador para dentro do circo midiático que o caso logo se tornará. Nesse quesito a diretora está confortável, providenciando no cenário todo o espaço necessário para os atores: enquanto Clooney e Roberts se bastam em repetir na obra seus perfis costumeiros (ele de adulto meninão, ela de figura responsável), O'Connell e o resto do elenco buscam tirar de seus papéis o máximo, empregando - principalmente ele, com suas constantes explosões de fúria - aquela performance de intensidade conhecida de quem busca se destacar a todo instante possível.
Mas se nessas questões mais elementares da cineasta o longa está aconchegado em estabelecer suas bases, nas outras ele se perde em resoluções confusas ou perdidas em uma ingenuidade palpável. Porque se Jogo do Dinheiro a princípio parece apontar a um plano crítico mais geral da situação, sem tirar do foco a culpabilidade do espetáculo da televisão no sofrimento econômico imposto a Kyle (algo que vem, claro, da influência cada vez mais presente dos acontecimentos posteriores à crise de 2008 no cinema estadunidense), ele também não esconde sua propensão a trabalhar a história pelo próprio viés de circo midiático, que pela ótica de Foster acaba por ganhar contornos de algo quase positivo em seu aparente combate às grandes corporações e a empresários como o Walt Camby (Dominic West) da trama. O filme não consegue obter um equilíbrio a partir desses dois elementos, e o resultado por consequência sai torto.
Esse enfoque glorificante do jornalismo midiático, que ocupa maior espaço no terceiro ato e tira forças dos relances do público que acompanha o caso, prejudica ao mesmo tempo outro equilíbrio vital ao longa, o entre o suspense inerente ao sequestro e os respiros cômicos providenciados no roteiro de Linden, DiFiore e Kouf. Além de escancarar as tentativas de comprovação de uma fabricação da realidade (a revelação posterior dos explosivos) e de contribuir para tornar alguns dos momentos da história comicamente irreais (este deve ser o sequestro televisionado ao vivo mais aborrecido da História, já que muitas vezes nada acontece diante da câmera), essa falta de balanço entre mergulhos de tensão e alívios decorrentes afasta o público, impedindo-o de se enveredar pelas mudanças de rumo programas e executadas.
E se Jogo do Dinheiro soa limitado como exercício de gênero e problemático na análise da realidade, o que sobra? Foster é capaz de manter o filme coeso durante toda a sua projeção, tornando sua estrutura atraente do começo ao fim sem perder o compasso ritmado ao qual se submete e escondendo ao máximo as ingenuidades decorrentes pelos momentos dramáticos obtidos e explorados como possível, mas fica claro que conforme a situação se resolva e a história se encerre o espectador se comporte como o moço na mesa de pebolim do longa, que para de jogar para acompanhar o caso mas volta à sua descontração após ter conhecimento da resolução.
0 comentários :
Postar um comentário