sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Crítica: Joy - O Nome do Sucesso

David O. Russell brinca com a estrutura da novela para entregar mais uma atuação de excessos de Jennifer Lawrence.

Por Pedro Strazza.

Desde que voltou a trabalhar como diretor e se tornou peça-chave nas corridas anuais aos Oscar de atuação, David O. Russell tem mostrado cada vez mais interesse nas histórias que fizeram sucesso em Hollywood e a mantiveram como a indústria milionária que conhecemos. Do filme de boxe ao romance água-com-açúcar, além da trama de roubo, o cineasta tem demonstrado em seus trabalhos recentes uma predisposição incomum de repetir tais estruturas por pura admiração, como o típico adulto que, crescendo em meio a obras desse tipo, busca mantê-las vivas nos dias de hoje passando-as para a próxima geração. Mas ao invés de fazer isso pelos filhos, O. Russell trabalha essa necessidade através de seus filmes.

Com isso em mente, é mais fácil de entender algumas das escolhas do diretor com Joy - O Nome do Sucesso, relato da ascensão da inventora Joy Mangano como poderosa empresária no começo dos anos 90. Com clara inclinação ao novelesco conhecido das soap operas televisivas - presente desde o seu início com a reencenação de uma - o filme se aproveita da trajetória de sua protagonista para refazer o que talvez seja um dos maiores arcos do cinema estadunidenses: o de superação, da realização do sonho americano e no fim a história de transformação por essência.

E como em seus outros trabalhos, ele realiza esse caminho tão conhecido pela metodologia do exagero. Seja nos já famosos grandes espaços narrativos para overacting de seu elenco ou na fotografia inquieta e alternante entre a palidez fria e o estouro de cores de Linus Sandgren (também parceiro do cineasta em Trapaça), O. Russell mais uma vez dá a entender que opera pelo excesso para chamar mais atenção à trama, em um tipo de manobra que mais uma vez demonstra seu fascínio pelo cinema intenso de seu ídolo Martin Scorsese. Por consequência, o melodrama se torna em ferramenta primordial de execução narrativa.

Em uma primeira instância, essa visão do diretor soluciona algumas das problemáticas mais superficiais do longa, como a falta de nexo na conexão da dramaticidade exacerbada da soap opera com a cinebiografia ou o fato de Jennifer Lawrence ser dez anos mais nova para interpretar a protagonista. Mas conforme se aprofunda na história que conta, o exagero consegue aos poucos dar maior naturalidade aos exercícios narrativos que Joy ora ou outra se submete (os flashbacks ocasionais, por exemplo) e, principalmente, ao ato de revelação concedido à protagonista em sua metamorfose de dona-de-casa endividada à empresária, que alcança um primeiro clímax bastante funcional em sua visita ao estúdio de infomerciais do empresário vivido por Bradley Cooper.

O problema é que se Scorsese mostra-se sempre em controle das situações que proporciona em seus filmes, O. Russell parece não ter a mesma sorte. E se Trapaça acabava por ficar à deriva das próprias reviravoltas, aqui ele tenta solucionar essa dificuldade assegurando constantemente seu controle, mesmo quando não é necessário. Assim, por mais que ofereça aqui e ali alguns bons momentos, o arco de emancipação de Joy da família que a atrasa e a puxa para baixo nunca consegue alcançar o impacto necessário, muito em parte porque seu diretor não deixa de pesar a mão e torna o filme maciço sem precisar.

Mas se no geral o longa afunda conforme os eventos se desenrolam, na performance de sua protagonista ele parece encontrar algum ponto de equilíbrio. E no fundo, talvez seja o filme de ator que O. Russell tanto procure em suas produções extravagantes e agora entregues de fato ao novelesco, depositando em Lawrence as esperanças de uma grande performance. Para a atriz isso não incomoda tanto, já que permite a ela o espaço necessário para praticar seu overacting e (por enquanto) carimba sua visita às principais premiações da indústria cinematográfica estadunidense.

Nota: 5/10

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