O amor nos tempos da amargura.
Por Pedro Strazza.
Baseado na peça de mesmo nome que Kaufman escreveu em 2005, o filme é protagonizado por Michael Stone (David Thewlis), um famoso escritor e analista de serviço de atendimento ao cliente que viaja a Cincinnati para dar uma palestra sobre o tema. Melancólico, Michael sente-se em um mundo uniforme e impessoal, onde todos à sua volta parecem ter a mesma atitude, rosto e voz, mas suas esperanças se reacendem quando conhece Lisa Hesselman (Jennifer Jason Leigh), uma típica garota do interior que parece ser a única a ter alguma personalidade no universo do hotel.
Levemente disfarçada de romance, a temática central da trama é trabalhada pelo filme com sutileza encantadora, e não apenas por causa de seus elementos de efeito mais imediato ao qual tanto se aproveita, como o fato de todos os personagens em cena à exceção do casal protagonista possuírem a mesma identidade visual e serem dublados por Tom Noonan. Kaufman e Johnson são simples na organização espacial dos cenários se comparados aos trabalhos de estúdios como a Aardman ou a Laika, mas se aproveitam muito bem do stop-motion para dar a estes a artificialidade necessária, que compõe o mundo paranoico de Michael nas coisas pequenas (o balde de gelo, a revista que vende chili na capa) e grandes (a sex shop e a divertida uniformidade de seus consolos).
É uma atmosfera delicada e impressionante, mas não tão bem utilizada pelo roteiro. Em muitos momentos soando como uma história curta que foi esticada para ocupar os noventa minutos de um longa-metragem, Anomalisa não demora muito a repetir sem criatividade os maneirismos de Kaufman, que refaz sua estética depressiva em um trabalho de maior controle. E se o maior domínio por um lado permite ao diretor executar seu roteiro como bem entende, ele também impede a obra de alçar voos maiores por estar preso a seus mecanismos.
Neste quesito de dominância, a comparação com Sinédoque, Nova York, primeiro trabalho do cineasta, permite uma maior elucidação do caso. Também um típico trabalho de roteirista no comando, o filme protagonizado por Philip Seymour Hoffman com velocidade se entrega a jogos metalinguísticos complexos, e o eventual descontrole que se sucede na narrativa é o que o permite se expandir em temáticas mais difíceis e existenciais. Em Anomalisa, o sufocamento provoca o contrário, particularizando a trama em temas que apesar de sugeridos nunca chegam a ser explorados de fato pelo roteiro.
E se o particular em outras obras trabalha a favor, aqui ele só ressalta o estranho viés adolescente de sua história de amor. Pois apesar de a todo momento posar e insistir na imagem de ser uma animação adulta - deve ser a primeira vez que um longa em stop-motion abusa tanto de cenas com cigarros, bebidas alcoólicas, partes sexuais do corpo humano e sexo oral - Anomalisa não consegue escapar de questões conhecidas da juventude, como a da busca da identidade na sociedade ou da procura pelo amor perfeito. E Charlie Kaufman, em uma síndrome ou de adolescente que se recusa a crescer ou de adulto amargurado e saudoso dos dilemas juvenis (que em ambos os casos traz fácil identificação com as gerações mais jovens), acaba por se comportar como uma espécie de John Green da depressão.
Levemente disfarçada de romance, a temática central da trama é trabalhada pelo filme com sutileza encantadora, e não apenas por causa de seus elementos de efeito mais imediato ao qual tanto se aproveita, como o fato de todos os personagens em cena à exceção do casal protagonista possuírem a mesma identidade visual e serem dublados por Tom Noonan. Kaufman e Johnson são simples na organização espacial dos cenários se comparados aos trabalhos de estúdios como a Aardman ou a Laika, mas se aproveitam muito bem do stop-motion para dar a estes a artificialidade necessária, que compõe o mundo paranoico de Michael nas coisas pequenas (o balde de gelo, a revista que vende chili na capa) e grandes (a sex shop e a divertida uniformidade de seus consolos).
É uma atmosfera delicada e impressionante, mas não tão bem utilizada pelo roteiro. Em muitos momentos soando como uma história curta que foi esticada para ocupar os noventa minutos de um longa-metragem, Anomalisa não demora muito a repetir sem criatividade os maneirismos de Kaufman, que refaz sua estética depressiva em um trabalho de maior controle. E se o maior domínio por um lado permite ao diretor executar seu roteiro como bem entende, ele também impede a obra de alçar voos maiores por estar preso a seus mecanismos.
Neste quesito de dominância, a comparação com Sinédoque, Nova York, primeiro trabalho do cineasta, permite uma maior elucidação do caso. Também um típico trabalho de roteirista no comando, o filme protagonizado por Philip Seymour Hoffman com velocidade se entrega a jogos metalinguísticos complexos, e o eventual descontrole que se sucede na narrativa é o que o permite se expandir em temáticas mais difíceis e existenciais. Em Anomalisa, o sufocamento provoca o contrário, particularizando a trama em temas que apesar de sugeridos nunca chegam a ser explorados de fato pelo roteiro.
E se o particular em outras obras trabalha a favor, aqui ele só ressalta o estranho viés adolescente de sua história de amor. Pois apesar de a todo momento posar e insistir na imagem de ser uma animação adulta - deve ser a primeira vez que um longa em stop-motion abusa tanto de cenas com cigarros, bebidas alcoólicas, partes sexuais do corpo humano e sexo oral - Anomalisa não consegue escapar de questões conhecidas da juventude, como a da busca da identidade na sociedade ou da procura pelo amor perfeito. E Charlie Kaufman, em uma síndrome ou de adolescente que se recusa a crescer ou de adulto amargurado e saudoso dos dilemas juvenis (que em ambos os casos traz fácil identificação com as gerações mais jovens), acaba por se comportar como uma espécie de John Green da depressão.
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