terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Crítica: Carnaval de Meus Demônios

HQ evidencia crescimento e sobriedade de seu autor.

Por Pedro Strazza.

Enquanto segundo trabalho autoral, é curioso perceber como Carnaval de Meus Demônios parece ser tudo menos um quadrinho feito por alguém em começo de carreira. Com pouco mais de 22 anos, Guilherme Petreca demonstra aqui ter tanto domínio invejável dos aspectos mais básicos da arte sequencial quanto sobriedade narrativa incomum à idade, capaz de manter sob controle o lado emocional de um quadrinho que, como bem indica o título, se pauta justamente nesse âmbito.

Ambientado em um mundo de sonho feito sem diálogos e de pouco personagens, a obra se constrói em uma narrativa horizontal simples, que guia o olho da esquerda para a direita para contar a história de um garotinho e seu balão. O traço do quadrinista, porém, busca não dinamizar o movimento de leitura e sim de retardá-lo aos poucos: Petreca ocupa as páginas de sua HQ em um notável arco crescente de ilustração, preenchendo com figuras que atendem às demandas e caprichos propostos pela trama.

Por outro lado, é interessante o equilíbrio do autor ao jogo de simbolismos apresentado. Embora fiquem escancarados de imediato as alegorias ao fim da infância e o advento da maturidade, desenvolvidas nas relações criadas entre o protagonista, o líder ameaçador de uma verdadeira horda de criaturas assustadoras e uma terceira personagem, o livro evita fazer da maior presença do lado oníricos um motivo para pesar na narrativa as escolhas de sua simbologia. A bem da verdade, ele se usa disso para alimentar a estética de seu pesadelo, ainda que ao longo da história Petreca acabe por não se utilizar tanto do luz e sombra em suas ilustrações.

O mais inesperado, entretanto, é que a obra não chegue a soar tão pessoal como pareça soar a princípio. Os esforços inconscientes do autor em tornar sua história uma extensão de suas emoções - caminho natural da grande maioria dos artistas em começo de carreira - dissipam pela universalidade do tema, reforçados pela ausência total de texto na narrativa. É como se a HQ fosse de autoria de alguém experiente, com anos de carreira que permitissem a ele silenciosamente se abrir e se conectar com o leitor.

Daí talvez que venha esse caráter inesperado e quase paradoxal de Carnaval de Meus Demônios. Mesmo que seja o segundo quadrinho de seu autor, a obra possui elementos extremamente naturais de artistas experientes, seja no clima de terror pouco imediatista ou mesmo no olhar adulto que se dá a uma história de pinceladas juvenis. Seja o que for, é evidente que Petreca demonstra aqui estar acima de outros tantos quadrinistas de sua idade.

Nota: 8/10

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