Luz, câmera, confusão!
Por Pedro Strazza
As explicações para esse "fenômeno editorial" são várias - e incluem fatores como o crescimento da Marvel nos cinemas, compra desta pela Disney, maior número de mudanças bombásticas em seus personagens, etc. -, mas uma se destaca em termos de roteiro: As mega-sagas. Enquanto a Casa das Ideias realizava estes eventos grandiosos de seu universo na grande maioria das vezes com maestria e sabia separar o esqueleto principal destes das tramas nas revistas solos de seus super-heróis, a DC poucas vezes teve a mesma mão para esse tipo de história, fracassando a cada nova tentativa com um enredo mais e mais exagerado. Ciente disso, a editora de Batman e Superman se propôs, quando realizou o reboot de seu universo, a abandonar essa estratégia em prol do desenvolvimento individual de seus personagens, priorizando conflitos nos pequenos universos de cada vigilante e super-herói em arcos fechados como Morte da Família ou O Trono de Atlântida.
Mas a Marvel continuou a ampliar seu mercado com base nas mega-sagas, e a DC, perdendo público, precisou mais uma vez apelar para os grandes eventos. E como a mais recente empreitada da adversária envolveu o combate de suas duas maiores equipes de super-heróis, por que não fazer o mesmo?
Surge assim esta Guerra da Trindade, crossover preparatório da DC Comics para a grande saga Forever Evil (em português algo como Eternamente Vilão) que coloca em conflito as três maiores Ligas da Justiça de seu universo: A regular, a da América e a Dark. No centro deste combate entre amigos temos Pandora, a responsável pela abertura da caixa de Pandora, um dos três amaldiçoados pelo antigos a viver eternamente por causa de seus crimes, considerados os piores que a espécie humana poderia oferecer, e ainda responsável pelo pontapé inicial da pancadaria super-heroica.
Repleta de reviravoltas, trocas de lado e divisões entre equipes, a Guerra da Trindade oferece em sua confusa trajetória (tanto de roteiro quanto de revista, visto que tem seus capítulos principais pulverizados nas três revistas mensais das Ligas) uma típica estrutura das mega-sagas da DC Comics. Pelo menos nos três primeiros capítulos, elementos típicos de suas histórias como o inimigo nas sombras e a transformação de seus super-heróis em meros peões são empregados sem medo pelos roteiristas Geoff Johns e Jeff Lemire, que ainda fazem questão de evidenciar isso em seus diálogos - Torna-se até cômico perceber que o Arqueiro Verde ressalta duas vezes estar desconfiado da existência de um plano maior a partir do argumento "É o Superman, ele não faria isto!".
Ainda que carregue muitos desses pequenos clichês, entretanto, a história diverte pela própria proposta (afinal, quem não estava afim de ver Superman brigando com Shazam ou Zatanna se aliando à Liga da Justiça?), e isso pode ser um alicerce fundamental para o sucesso desta. Se apostar nesta tendência e deixar de lado a complexidade típica da editora, a Guerra da Trindade pode se tornar um bom ponto de início para a primeira grande saga dos Novos 52. Mas para isso será necessário uma pequena ousadia dos roteiristas, e eis que a maior questão da saga aparece.
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