segunda-feira, 12 de maio de 2014

Crítica: Getúlio

Didático e sem opinião

Por Pedro Strazza

É inegável a afirmação de que Getúlio Vargas foi um dos políticos mais interessantes de toda a História brasileira. Dotado de uma popularidade com a população invejável, Vargas foi responsável por acabar com o domínio político imposto por São Paulo e Minas Gerais no país e também por criar as primeiras (e importantes) leis trabalhistas do Brasil, mas também se elegeu como ditador e perseguiu, torturou e matou milhares de inocentes que protestavam contra sua tomada de poder ilícita. O mais curioso de sua trajetória, porém, foi que, pouco tempo depois de sair do controle do Brasil como ditador, ele conseguiu voltar a ocupar a presidência, onde desempenhou seu problemático mandato até o suicídio, em 1954.
Em Getúlio, o novo filme do diretor João Jardim, estes últimos dias do presidente antes de se matar são retratados. Do atentado na rua Tonelero ao jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges) ao próprio suicídio de Vargas (Tony Ramos), o roteiro escrito por Jardim e George Moura se restringe a apenas acompanhar os acontecimentos ocorridos sem dar ao espectador qualquer interpretação à figura do ex-presidente. Para o filme, vale mais a didática que a opinião, polêmica em qualquer um dos pólos disponíveis.
A tendência à neutralidade é notável na composição dada ao protagonista, bem interpretado por um maquiado Tony Ramos. Se em vários momentos o filme apresenta ao público um Getúlio humano, como nas cenas em que contracena com sua filha Alzira (Drica Moraes, caricata) ou na falta de habilidade em amarrar um sapato (algo que confere, na medida do possível, um caráter humilde ao personagem), a direção não esconde ao público que este homem foi um ditador terrível e culpado de todos os crimes humanitários ao qual foi acusado. Antagônicas em sua natureza, o conflito destas duas figuras de Getúlio poderia tornar a produção em algo mais interessante, mas aqui são tratadas como separadas pelo roteiro - Estranho, se pensarmos que estamos falando do mesmo personagem.
Se pelo lado opinativo Getúlio é ausente, por um lado histórico a produção é muito bem trabalhada. À exceção da questão dos eventos pós-suicídio - Limitados aqui a imagens-arquivo e letreiros que escolhem os fatos a serem contados -, o longa recria em seus cem minutos de projeção todos os acontecimentos ocorridos no período, apresentando desde as intrigas do poder ao caso envolvendo o atentado na rua Toneleros e o homem de confiança de Vargas, Gregório Fortunato (Thiago Justino, eficiente na composição do personagem). Para deixar esse quadro histórico-político ainda mais claro, a produção esclarece ao espectador quem é quem dos personagens coadjuvantes através de letreiros, tornando a obra muita mais documental que artística.
Como recriação histórica, Getúlio é uma obra eficiente, mas se limita apenas a isso. E em se tratando de uma personalidade tão importante e intrigante da política brasileira como o personagem-título, esta produção perde uma chance incrível de fazer algo mais.

Nota: 5/10

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