domingo, 27 de abril de 2014

Primeiras Impressões: Dark Horse Apresenta

Peculiar e com formato estadunidense, título é uma iniciativa interessante da HQM com a Dark Horse no país

Por Pedro Strazza

Embora o Brasil esteja vivendo uma ótima fase na área de quadrinhos, ainda há muito a ser feito. Além do já tradicional atraso de publicação e de preços extremamente salgados, obras e revistas importantes e reconhecidas lá fora nunca conseguiram botar os pés em terras brasileiras devido justamente ao estágio primário em que o mercado tupiniquim se situa. Editoras estadunidenses e européias, assim, têm dificuldades absurdas para vender seus produtos por aqui, e o leitor brasileiro é obrigado a pagar mais caro para obter uma cópia original de tal história.
Mas há quem tente mudar esse panorama, e os maiores representantes desta tendência são a Mythos e a HQM. Trabalhando em um mercado amplamente dominado pela Panini (e seus direitos de publicação sobre Marvel e DC Comics), essas duas editoras estão aos poucos trazendo para o Brasil as editoras estrangeiras rivais das duas maiores potências dos quadrinhos estadunidenses, criando dessa forma opções para este público crescente que é o "país do futebol". Graças à essas duas, empresas como a Dynamite, a Valliant e a Image Comics, por exemplo, só agora começaram a sair por aqui - Esta última, inclusive, só teve de produto lançado a consagrada, reverenciada e premiada The Walking Dead, a série de Robert Kirkman que deu base para a série de TV homônima.
A essas editoras, se junta agora também a tradicional Dark Horse, responsável pela publicação do Hellboy de Mike Mignola e sumida no país já há algum tempo. Encarregada de tentar estabelecer novamente a empresa por aqui, a HQM resolveu lançar a cultuada Dark Horse Presents (por aqui traduzida como Dark Horse Apresenta), revista que voltou a ser publicada nos Estados Unidos recentemente. Coletânea de histórias feitas pelos mais diversos artistas, a publicação é uma escolha perfeita para iniciar esse processo, visto que serve como um verdadeiro porto para novos artistas serem conhecidos pelo grande público.
Ainda sim, existem problemas a serem solucionados pela HQM envolvendo a própria estrutura da revista. Concebida em um mercado bem estabelecido e de alto poder de consumo, a Dark Horse Apresenta nunca precisou organizar suas histórias em relação a um tema ou qualidade da história oferecida para fazer sucesso, algo que no Brasil é indispensável - só observar como a Panini, que criou essa tendência por aqui, organiza seus mixes em torno de temas ou personagens. Torna-se difícil para um leitor brasileiro, portanto, acompanhar o ritmo nada coerente elaborado pela sequência de obras inseridas, que variam da violência à fofura e do excelente ao fraco - Sem contar a entrevista com Frank Miller, que merecia uma revisão mais detalhada na edição brasileira.
Isso não prejudica, entretanto, que estas histórias sejam prejudicadas por esse "defeito de adaptação". De nomes importantes a completos desconhecidos, os roteiros e as artes de Dark Horse Apresenta agradam a todos os tipos de gostos, abrangendo um maior público no processo; para os conservadores existe o trabalho internacionalmente reconhecido de Neal Adams e Paul Chadwick, para os experimentalistas as histórias de Michael T. Gilbert e Carla Speed McNeil, e etc. Até para quem não gosta de quadrinhos a revista se faz interessante, a exemplo do conto peculiar Que Interessante: Um Homem Minúsculo, de Harlan Elison.
É neste ritmo "anárquico" que a Dark Horse Apresenta começa no Brasil. Diversificada e abrangente, a publicação da HQM torna-se mais uma série mensal fora da curva para os leitores brasileiros explorarem o universo dos quadrinhos, além de ser um reinício acertado para a Dark Horse no país. São necessários ajustes, claro, mas sua importância pode ser tão crescente como o mercado nacional é nos dias de hoje.

0 comentários :

Postar um comentário