Um novo Arqueiro para um novo universo
Por Pedro Strazza
Matar nem sempre é a melhor forma de se fazer justiça, e Oliver Queen (Stephen Amell) aprendeu isso duramente. A morte de seu melhor amigo, Tommy Merlyn (Colin Donnell), pelas mãos de um plano diabólico que não pode impedir mostraram ao alter-ego do Arqueiro Verde que, para o bem de Starling City, seus métodos de combate ao crime teriam de ser alterados, e o até então vigilante precisaria se transformar em um herói.
Esse processo de "super-heroização", entretanto, não se restringe ao dono das Indústrias Queen nesta segunda temporada de Arrow. Agora com um universo estabelecido, a série pôde enfim começar a expandir seus horizontes e usar de vários elementos e personagens da DC Comics para contar sua história, criando portanto um mundo um pouco menos realista e mais quadrinhos - centrando sua narrativa, claro, na figura de seu protagonista e sua evolução pessoal.
Dessa forma, mesmo que ainda cometendo alguns dos mesmos erros básicos da primeira temporada, o seriado se tornou mais orgânico e divertido para os fãs, que puderam ver um mundo mais rico nas telinhas. Os easter-eggs, escondidos no primeiro ano, desabrocharam-se em novas e interessantes tramas; heróis e vilões conhecidos das HQs foram introduzidos; personagens coadjuvantes ganharam desenvolvimento independente do protagonista. Arrow cresceu, sadio e forte, como seriado, e não deixou dúvidas disso.
Mas esta evolução da série não esqueceu de suas fundações. Ao invés de se perder num universo repleto de histórias confusas e entrelaçadas nos mais diversos pontos, a produção optou sabiamente por manter seu foco na trajetória de Oliver Queen e sua cruzada justiceira, e apresentou suas novidades conforme o espectador ia acompanhando o Arqueiro. Assim, foram introduzidos ao panorama do herói peças curiosas e independentes que funcionavam com a proposta da temporada, como o candidato a prefeito Sebastian Blood (Kevin Alejandro) e seus planos, a A.R.G.U.S. e o Esquadrão Suicida de Amanda Waller (Cynthia Addai-Robinson) e os retornos de Slade Wilson (Manu Bennett) e Sarah Lance (Caity Lotz) à vida.
Neste último, nota-se o quão cuidadosos foram os roteiristas Greg Berlanti e Marc Guggenheim para construir a história desta temporada, visto que estes dois personagens foram essenciais, junto com o protagonista, para realizar a ponte entre as duas linhas narrativas principais da série. Organizadas de forma a se complementar, tanto passado quanto presente usaram do trio formado por Oliver, Sarah e Slade para guiar os eventos ocorridos nos 24 episódios, tornando ainda mais interessante seus conflitos a partir da morte de Shado (Celina Jade) - a grande justificativa, junto com o Mirakuru, para a transformação de Slade em vilão. E ainda que em vários momentos essa complementariedade tenha sofrido no andamento da série (Não foram poucos os momentos em que a montagem de Arrow errou na distribuição dos dois tempos), o alinhamento funcionou suficientemente bem para justificar a presença do passado de Oliver na narrativa.
A série, porém, não realizou apenas acertos em sua segunda passagem pela televisão. Apesar de ter acertado no desenvolvimento de vários personagens coadjuvantes - Como Diggle (David Ramsey), Felicity (Emily Bett Rickards) e o casal Roy (Colton Haynes)/Thea (Willa Holland) -, sobraram erros para a trajetória de Laurel (Katie Cassidy), cujo luto por Tommy desembocou numa confusa crise. Seu relacionamento com família e amigos, por exemplo, teve conflitos e resoluções para estes extremamente incoerentes, deixando suas participações cada vez mais exageradas e irritantes.
Outro defeito claro na composição narrativa da série foi o uso irregular de alguns integrantes importantes do elenco coadjuvante. Tal qual uma criança pequena que deixa de lado algum brinquedo quando ganha um novo, o roteiro esquecia de usar estas peças quando novas entravam, só reutilizando as primeiras episódios depois. Personagens fundamentais como Isabel Rochev (Summer Glau) e Blood, por exemplo, ficaram por muito tempo ausentes da trama, retornando apenas quando necessários para seu andamento - Para tornar este problema ainda mais evidente, note que Rochev, vilã corporativa aqui, aparece em apenas nove dos 24 episódios da temporada.
Esses problemas, porém, tornaram-se pequenos comparados aos resultados que a série alcançou nesta segunda temporada. Fechando mais um ciclo de aprendizado importante para Oliver Queen, Arrow também deu passos importantes para o universo DC ser estabelecido no canal the CW - que já autorizou a produção de uma nova série baseada em outro personagem icônico da editora, Flash -, algo importante para o amadurecimento do seriado. Para o terceiro ano, resta agora corrigir erros e concluir a formação heroica do Arqueiro, que, se tudo der certo, terá seu nome inteiramente falado na televisão em pouco tempo.
0 comentários :
Postar um comentário