Fraco e sem ambições, mas importante
Por Pedro Strazza
O diretor, entretanto, realizou esse processo de expansão em apenas parte do roteiro, deixando de lado elementos fundamentais para uma maior solidez narrativa. Sejam novos ou velhos, essas pequenas características em conjunto são vitais para que a construção do trio protagonista seja feita de forma no mínimo satisfatória - E sem esses, grande parte dos acertos de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho são superficializados ou diminuídos de um maior impacto.
Dentre estes elementos, o desenvolvimento dos personagens coadjuvantes é o que mais faz falta aqui. Da família de Leonardo aos bullys do colégio, é extremamente perceptível a falta de um maior aprofundamento em seus perfis, reduzidos a estereótipos latentes e desinteressantes, prejudicando seriamente por sua vez a atuação destes. Para a criançada malvada da escola isso até pode ser passável, mas em uma personagem tão vital para o roteiro quanto a mãe de Leonardo - cujo excesso de segurança poderia ter ganho maior destaque que uma simples justificativa por parte de Maria (Selma Egrei) - esta falta de profundidade é prejudicial à própria jornada pessoal do protagonista em direção à liberdade.
Esta superficialidade dos coadjuvantes também é danosa (e ao mesmo tempo originada) às novas questões e eventos que Daniel Ribeiro inclue no filme. Interessantíssimos, questionamentos da juventude como o primeiro beijo e o desapego dos pais são tratadas inicialmente pelo roteiro como importantes, mas quando cumprem sua função narrativa logo são descartadas e esquecidas pelos personagens - Observe, por exemplo, que (e não se isso pode ser considerado como SPOILER, mas vale o aviso) depois que Gabriel (Fabio Audi) beija Leonardo pela primeira vez todas as importunações, ou por parte dos colegas ou pelo próprio Leo, desaparecem. Uma pena, visto que estas pequenas problemáticas poderiam ter conferido maior complexidade à trama de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho sem tirar deste a sua leveza.
Problemas estruturais complementares à parte, é válido o destaque ao trio protagonista da história, cujo desenvolvimento ganha 100% do foco na produção. Interpretados com excelência e fofura por Tess Amorim, Audi e Lobo - Todos mais confortáveis em seus papéis que no curta de 2010 -, Giovana, Gabriel e Leonardo vivem experiências cuja repercussão será importante para seus respectivos futuros e presentes, afetando cada um deles à sua maneira. E apesar de 3/4 do filme serem dedicados a Leo e sua cegueira, o destaque em seus melhores amigos no restante do tempo é dos mais interessantes - principalmente Giovana, capaz de uma maturidade importante no último ato do longa.
O grande diferencial de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, porém, é a capacidade surpreendente de tornar a questão da sexualidade em algo menos polêmico e mais natural na sociedade. Tratada em quase todos os filmes que tocam no assunto como algo revolucionário, a homossexualidade é vista aqui por Ribeiro como uma opção pessoal e independente da opinião pública - algo que eu particularmente apoio. E neste ponto a direção de Daniel é esperta com o bullying dos meninos do colégio (superficializados ao máximo, lembre-se), pois suas provocações para cima de Leonardo e Gabriel não passam de simples brincadeira, ao contrário de um bem mais provável ato homofóbico na atualidade.
Em sua essência um filme leve e fofo, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é uma produção que trata da independência pessoal adolescente com curiosidade, mas sem maiores interesses que este. Neste interím, a falta de ambição tira do filme uma mensagem mais duradoura, algo que sem dúvida poderia ter tornado o longa mais importante. Não que ele deixe de ser isto, claro; mas havia aqui algo a mais a ser desenvolvido.
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