Franquia apresenta potencial, mas falha de resto
Por Pedro Strazza
Neste caso, a protagonista seria Beatrice Prior (Shailene Woodley), que vive numa Chicago pós-apocalíptica e dividida em cinco facções - Candor (os honestos), Abnegation (os altruístas), Dauntless (os corajosos), Amity (os pacíficos) e Erudite (os inteligentes) - para o melhor funcionamento da civilização. Como está completando 16 anos, Beatrice precisa, tal qual todo jovem nessa idade, escolher uma dessas classes para dedicar seu suor e sangue. Mas ela descobre ser um tipo raro (e caçado pelo governo) de pessoa, um perfil cujas habilidades se encaixam em qualquer um dos cinco pilares da sociedade: Os Divergentes.
A partir daí, o roteiro escrito por Evan Daugherty e Vanessa Taylor transforma toda a jornada de Beatrice em uma alegoria para o processo de "libertação" que todo jovem recebe na idade da protagonista. Algo bastante interessante, de fato, mas falho em explicar o motivo desta: Afora sair do conforto da casa dos pais, Tris (apelido pelo qual é conhecida nos Dauntless) não realiza nenhum tipo de quebra de sua condição, mantendo seus valores ensinados pela família até com seus novos companheiros. Dessa forma, a bastante insistida moral "facção acima do sangue", subjetivamente importante para os valores desta sociedade, não tem qualquer sensação ou demarcação de fim, visto que não é respeitada por nenhum dos personagens principais em nenhum momento. Sem essa sensação real de evolução, a construção da protagonista torna-se extremamente frágil e quebradiça, e o espectador vê nela mais uma menina (Beatrice) do que a mulher (Tris) que o filme insiste em firmar sobre nenhum argumento.
Focando nesta jornada pessoal esvaziada, Divergente acaba por esquecer de desenvolver com propriedade o universo criado - que, mesmo sendo por essência curioso e rico, ganha aqui várias perguntas sem resposta - e os coadjuvantes que o habitam. Momentos facilmente interessantíssimos para o andamento da história como a relação de Quatro (Theo James) com o pai ou o passado da mãe de Beatrice, Natalie (Ashley Judd), são abordados de maneira superficial e rápida pelo diretor Neil Burger em ordem de manter todo o foco na protagonista. Essa escolha constitui-se um erro brutal para a produção, pois, sem uma linha narrativa principal atrativa, as narrativas secundárias poderiam ser uma bela válvula de escape para o público.
Possuindo ainda um último ato repleto de todos os clichês possíveis e cenas de ação bastante oscilantes, Divergente obtém no geral um resultado mediano para baixo. Sem um conteúdo melhor trabalhado e provavelmente apostando na resposta dos fãs para seu sucesso financeiro, o filme traz à mesa ideias e questionamentos que podem vir a ser, numa eventual sequência, melhor trabalhados. Porém, essas mesmas aqui são, como a liberdade de Beatrice da sociedade impositora, apenas uma promessa não cumprida.
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