Às vezes não dá para ver tudo na estreia. Vamos às sobras:
Carrie - A Estranha
Por Pedro Strazza
Sem dúvida, o maior de todos os desafios em um remake é a atualização da trama do original. Dos elementos mais bobos aos complexos, há em toda produção certas peças que não se encaixam tão bem como deveriam devido ao progresso e à evolução natural do planeta, seja na tecnologia ou política. Se não houver atenção a esses pequenos detalhes, o fracasso é iminente para os envolvidos.
Quem não soube trabalhar esse aspecto da maneira devida é Carrie - A Estranha. Refilmagem da adaptação clássica da obra de Stephen King, a produção utiliza sem muita responsabilidade novidades tecnológicas e gera em vários momentos situações incoerentes com o roteiro. Na cena inicial, por exemplo, as meninas no vestiário usam da câmera de seus celulares para fazer bully com Carrie (Chlöe Moretz), mas por motivo nenhum demoram para postar o vídeo na internet. O próprio clímax no baile poderia ter sido evitado com apenas uma singela ligação de Sue (Gabriella Wilde) para seu namorado, o que salvaria milhares de vidas.
A construção dos personagens é também outro fator problemático ao remake. Ao contrário do longa de 1976, onde quase todas as pessoas envolvidas possuíam defeitos e qualidades, Carrie é maniqueísta, definindo de imediato quem é bom ou ruim, e acaba tirando de seus coadjuvantes qualquer importância que tinham. A treinadora Desjardin (Judy Greer) e a terrível Margaret White são as personagens que mais perdem com isso: A primeira deixa de ser um elemento movido pela culpa dos feitos do passado para se tornar aqui uma estranha defensora dos fracos e oprimidos; A mãe de Carrie, interpretada por Julianne Moore, está ainda mais exagerada do que visto no filme de Brian De Palma.
Ao mesmo tempo, verifica-se na protagonista um desenvolvimento supérfluo e incoerente. É bizarro ver como Carrie, em menos de meia hora de longa (e, mais importante, muito antes do baile), deixa de ser aquela menina destruída pelo relacionamento com a mãe e o bullying para ser a mulher mais bela do colégio, mas ainda sim oprimida como ela anteriormente, ao descobrir seus poderes telecinéticos. Há uma fetichização incompreensível da personagem por parte da diretora Kimberly Peirce, que está obviamente querendo ressaltar a atriz principal (e ícone da cultura pop como Hit-Girl) para promover o longa. Moretz, por sinal, faz caras e bocas para ganhar a atenção e a torcida de seu público, mas em nada convence.
É notável como a versão de 1976 de Carrie - A Estranha funcionava sobre seus protagonistas e atuações de seu elenco para desviar do espectador a fragilidade do roteiro. Ao ignorar essas fundações, o remake torna-se tão esquecível e bobo como qualquer outra produção de terror mediana, e só se destaca ao fazer uma breve lembrança do original, que merece sim ser visto pela nova geração.
Nota: 2/10
Ender's Game - O Jogo do Exterminador
Por Pedro Strazza
Embora pareça a princípio fácil, fazer um filme épico é uma tarefa extremamente complicada. Deve-se haver uma perfeita elaboração da trama e de sua sicronia com o ritmo, alternando os clímax com momentos mais lentos e de desenvolvimento. Em Ender's Game - O Jogo do Exterminador é perceptível como esses dois fatores são teoricamente bem realizados pelo diretor Gavin Hood (X-Men Origens: Wolverine). Os problemas começam, entretanto, quando esses são postos em prática.
Ambientado num mundo onde os jovens são a grande aposta para derrotar a ameaça fantasma de uma raça alienígena, o longa acompanha o crescimento de Ender (Asa Butterfield) dentro da Academia de generais, que procura o grande general para derrotar o inimigo. Vindo de uma família problemática, o garoto precisa convencer a todos que é sim o bastião da humanidade contra o fim, além de superar os problemas decorrentes de sua família problemática.
Essa evolução pessoal do protagonista, entretanto, acaba sendo tratada de maneira superficial pelo roteiro, que se interessa muito mais nas batalhas da arena de treinamento e o relacionamento do jovem com outros personagens. Esse último, apesar de importante, poderia ter sido tratado com menos destaque, pois prejudica em muito o andamento da trama e o envolvimento que o público tem com Ender. Por outro lado, as cenas de ação são bastante interessantes a princípio ao exaltar o espírito de grupo nas equipes e a gravidade zero, mas acabam se tornando com o passar do filme tediosas e repetitivas. E isso se repete para pior no ápice da ação, que acaba se revelando no final algo maior do que parecia e desaponta com força o seu espectador.
Enquanto isso, o elenco funciona sem maiores problemas. Butterfield encarna com dor e seriedade seu Ender, mas volta a ser a criança que é quando em meio a seus familiares. Coadjuvantes como Harrison Ford (como sempre sensacional) e Abigail Breslin também criam aqui interessantes ideias para seus papéis, e Viola Davis, apesar do desmerecido pouco tempo de tela, faz de sua Major Anderson uma espécie de mãe para o protagonista.
Há diferenças entre ser grandioso e parecer ser. Ender's Game procura desde seu primeiro minuto mostrar a seu espectador que faz parte da primeira alternativa, com cenas épicas e cheias de ação contra uma raça alienígena insectoide e um protagonista de peso na figura do jovem Ender. Falta ao filme, porém, pequenos aspectos e qualidades que convençam de fato o público e o tornem digno do bloco, relegando-o infelizmente à segunda categoria.
Nota: 5/10
Nota: 5/10
A Vida Secreta de Walter Mitty
Por Pedro Strazza
Depois de ter explorado as loucuras e bizarrices da vida das estrelas em Trovão Tropical, Ben Stiller volta para a cadeira de diretor pela quinta vez para explorar a vida do homem comum e seus desejos por maiores emoções em A Vida Secreta de Walter Mitty, baseado no conto de James Thurber. O protagonista da vez é o Walter Mitty (o próprio Stiller) do título, um funcionário da revista Life na parte de fotografia com rotina extremamente burocrática que revela as fotos do mundialmente renomado fotógrafo Sean O'Connell (Sean Penn). Mas quando o negativo pretendido por O'Connell para a edição final da publicação física inexplicavelmente desaparece, Mitty é obrigado a abandonar o seu dia-a-dia normal para buscar a imagem com o próprio autor, do qual ele nunca conheceu.
Apesar de parecer por fora um típico e chato filme de auto-ajuda, A Vida Secreta de Walter Mitty possui elementos do humor costumeiro dos longas de Stiller para driblar essa condição. E embora em alguns momentos saia do foco (como é visto claramente na piada com O Curioso Caso de Benjamim Button), esse tom de comédia consegue aliviar bem a carga motivadora do longa para tornar a experiência mais agradável, mesmo com toda a evolução clichê de Walter.
Em contraponto a isso, temos na produção uma edição bastante exagerada e parecida com aquelas animações de slides do PowerPoint. A princípio, essas transições de cenas são até interessantes, funcionando bem quando utilizadas junto aos efeitos visuais; conforme o tempo passa, porém, tornam-se irritantes e artificiais, tirando um pouco da beleza natural das locações utilizadas.
A Vida Secreta de Walter Mitty é um longa que com certeza não será o "filme da vida" de alguém ou fator decisivo para uma série de mudanças na rotina de outra. Mas, por não se valer do emocional e querer ditar o futuro de sua vida, o filme valerá sim o preço de seu ingresso e botará um sorriso em seu rosto pelo resto da tarde.
Nota: 6/10
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