quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Crítica: Hotel Artemis

Ideia, elenco e nada mais.

Por Alexandre Dias.

Trabalhar com elencos grandes e já estabelecidos no mercado é muito difícil e, normalmente, indica uma insegurança do projeto desde a sua concepção. Quando não é um Quentin Tarantino ou um Terrence Malick, onde os devaneios dos autores tornam o filme “maior” que os seus atores, estamos acostumados com entretenimentos leves. Os Mercenários ou Onze Homens e um Segredo demonstram como essa proposta cria um álibi para o modo de lidar com os seus nomes.

Hotel Artemis, primeiro longa-metragem do roteirista Drew Pearce, responsável pelos textos de Missão: Impossível – Nação Secreta e Homem de Ferro 3, segue esta mesma linha de raciocínio. De fato, é um pensamento acertado e funciona até certo ponto. Porém, Pearce sofreu o baque do cargo na direção, em paralelo a uma história repleta de irregularidades, o que acabou deixando o seu trabalho à mercê de uma ideia eficiente e do talento da sua equipe de atuação.

Um hotel que acolhe criminosos – Keanu Reeves, cadê você? - em um futuro distópico. É um conceito quase que à prova de erros de tão legal. Além disso, é extremamente inteligente em termos de orçamento. Provavelmente gasto com metade do elenco, o pouco que vemos do mundo exterior convence com armas futurísticas e manifestações caóticas. Portanto, o título da obra realmente é um dos protagonistas, em teoria gerando um ambiente claustrofóbico, misterioso e agressivo. Percebe-se com clareza que o objetivo era misturar suspense com ação. Mais uma vez, isso tem êxito até certo ponto.

A sensação de que as coisas vão explodir a qualquer momento é melhor do que a explosão em si. Com exceção da cena do corredor de Nice (Sofia Boutella), não há nenhum tiroteio ou pancadaria que seja digno de nota. Pode-se dizer que houve um desperdício? Sim, afinal, as oportunidades de realizar isso são mostradas, como na expectativa gerada quando Everest (Dave Bautista) pega um machado e dá a impressão de que teremos um momento ao estilo Leônidas de Esparta.

Contudo, essa não utilização da ação não é um demérito. A circulação dos personagens pelo Artemis, um lugar desolado, porém com retoques tecnológicos, aumenta a sensibilidade das situações, visto as suas posições de profissionais do crime. A questão é que Pearce é totalmente dependente da cadência em lidar com o ambiente e os integrantes dele, ao invés de desenvolver e explorar as histórias que haviam ali.

O maior exemplo disso é Waikiki (Sterling K. Brown), que é um dos personagens principais do filme, mas não tem muito o que fazer nele, apenas não sendo completamente desinteressante por causa do seu ótimo intérprete. A relação do ladrão com Nice é muito superficial, quanto mais a com a Enfermeira (Jodie Foster), que brota do nada pelo fato dos dois protagonizarem o longa. Aliás, essa última ocorrência torna-se tão estranha justamente pela boa química que Everest teve com a idosa durante toda a produção.

Esta via de mão dupla do bom elenco com papéis rasos é igualmente clara no tom excessivo. O humor ácido e a violência funcionam em alguns momentos, como na interação entre Nice e o Rei Lobo (Jeff Goldblum, caricato na medida certa). Por outro lado, forçam a barra, esclarecendo a perda de controle de Pearce sobre o que ele tinha em mãos. Os personagens de Charlie Day e Zachary Quinto são a prova cabal disso; enquanto o primeiro, sempre na gritaria, tem muito tempo de tela para ser só um coadjuvante babaca, o segundo é um dos herdeiros mais chatos que eu vi no cinema nos últimos tempos.

Inclusive, é curioso como a obra parece ter noção do que ela é às vezes, pois quando o Rei Lobo dá uma “chamada” no filho é, sem dúvida, o sentimento do espectador se revelando. Entretanto, a participação de Quinto como Crosby também é hiperbólica. Quem sabe em uma possível sequência, sugerida pelo projeto na sua conclusão, haja um pouco mais de competência para o potencial de todas as suas qualidades manifestar-se por completo e sem máscaras.

Nota: 5/10

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