sábado, 1 de setembro de 2018

Crítica: Nico, 1988

Descubra a mulher por trás do ícone Nico do Velvet Underground.

Por Letícia Dauer.

Atriz, cantora, compositora, modelo, mãe. Christa Päffgen, mundialmente conhecida pelo pseudônimo Nico, foi um grande ícone e musa da década de 60. Sua imagem e beleza têm sido eternizadas como Femme Fatale, nome em referência a música que cantava com a banda The Velvet Underground. Entretanto, aqueles que entrarem no cinema apenas com essa representação glamourizada da artista certamente serão surpreendidos. 

Nico, 1988, dirigido e escrito pela italiana Susanna Nicchiarelli, retrata os dois últimos anos da turbulenta vida de Christa (Trine Dyrholm), enquanto realizava turnê por alguns países da Europa. Somos apresentados a uma Nico gótica, instável, cansada, viciada em heroína que ainda carrega muitos traumas de infância. Quando a pequena Nico nasceu, em 1938, em Colônia, a cidade alemã estava imersa na tensão da Segunda Guerra Mundial, sendo posteriormente bombardeada e destruída pelas forças aliadas.

Vivenciar a guerra tão cedo marcou para sempre a alma da artista, tornando-a inquieta e perturbada. Durante o longa metragem, Christa sempre carrega um gravador para, de acordo com a personagem, tentar capturar o som da derrota da guerra e de Berlim queimando. O barulho do aquecedor de água, das ondas do mar e do equipamento hospitalar são alguns dos sons gravados. Apesar do filme ter várias canções, são esses sons diegéticos que se destacam, demonstrando o belo trabalho do editor de som Marc Bastien.

Embora Christa seja mais conhecida pela participação no Velvet Underground, um dos méritos da biografia é justamente distanciá-la dessa fase e mostrar o trabalho solo e experimental da artista. “Olha, minha vida começou depois da experiência com o Velvet Underground. Eu prefiro falar sobre o presente”, como afirma a personagem. Em consequência, ela detestava quando os jornalistas a questionavam somente sobre o período da banda ou quando era chamada de Nico, anagrama da palavra ICON (ícone), criado por Andy Warhol que era empresário do grupo. 

No decorrer da turnê pela Europa, Christa é acompanhada pelo empresário Richard (John Gordon Sinclair) e por um grupo de músicos jovens. Como o desenvolvimento dos personagens secundários é superficial, sua utilidade no enredo é restrita a exaltar o temperamento forte de Nico e um certo desdém pela juventude. Diante disso quando o guitarrista da banda, por exemplo, sofre crise de abstinência de heroína e começa a passar mal, é difícil para o público criar alguma empatia. 

Outro equívoco do roteiro é deixar passar em branco a morte da artista. Em 1988, ela decidiu tirar férias em Bahamas com o filho. Um dia, enquanto andava de bicicleta, teve um ataque cardíaco e bateu a cabeça na queda. Apesar de um motorista de táxi tê-la socorrido, ele teve dificuldades em encontrar um hospital que a atendesse sem convênio médico. Nico morreu de hemorragia interna, o que pode ser visto como uma ironia do destino, já que finalmente estava largando as drogas e retomando a convivência com o filho. 

Nota: 7/10

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