segunda-feira, 25 de junho de 2018

Crítica: Desobediência

Tensão e delicadeza se complementam em narrativa sobre liberdade.

Por Isabela Faggiani*.

O novo longa do diretor chileno Sebastián Lelio, Desobediência, se enquadra no ainda pequeno nicho de filmes sobre mulheres que amam mulheres. Isso coloca sobre a história uma responsabilidade enorme, pois filmes desse tipo tendem a cair em alguns estereótipos prejudiciais e clichês. Lelio no entanto se saiu muito bem em seu papel, conduzindo a narrativa de forma bonita e delicada, ainda que complexa.

O filme começa com a morte do rabino mais respeitado de uma comunidade ortodoxa judaica de Londres. A cena seguinte, porém, é uma mudança drástica da comunidade religiosa para as ruas de Nova York, onde somos apresentados à Ronit (Rachel Weisz), uma fotógrafa solitária que vive na cidade e que é filha do rabino.

Sabendo da morte do pai, a jovem decide retornar à comunidade da qual saiu há muitos anos sem intenção de voltar. Ao chegar, ela é recebida pela notícia de que seus dois melhores amigos de infância, seu primo Dovid (Alessandro Nivola) e a amiga Esti (Rachel McAdams), estão casados. Ambos vivem de acordo com todas as normas da sociedade em que estão inseridos e estão mais religiosos do que nunca, o que aumenta ainda mais a distância entre o trio. 

A delicadeza de Desobediência pode ser vista em todas as situações de tensão do filme. O tom do filme, sempre com cores escuras e músicas instrumentais, já dá ao espectador uma sensação de que algo não vai bem, mesmo não havendo um momento de grande ação. Não há óbvia repulsa, mas fica sempre claro que a presença de Ronit na comunidade é desconfortável para ela e desagradável para as outras pessoas, com exceção de Esti, que logo descobrimos não ser tão distante de Ronit como antecipamos. 

A razão de todos esses sentimentos da comunidade - e da partida de Ronit - é o fato de que as duas mulheres tiveram um romance escondido quando mais novas e foram flagradas pelo pai de Roni, que depois da partida da filha sugeriu o casamento entre Esti e Dovid.

A história tem tudo para cair em contos batidos de religião contra sexualidade, mas não o faz. Ronit e Esti nunca tiveram dúvidas ou arrependimentos de seus sentimentos, e Esti nunca teve raiva de sua religião por causa de sua sexualidade. O filme trata de questões muito mais complexas: ele trata de liberdade e de livre arbítrio. O livre arbítrio de Ronit ao decidir sair da comunidade e ser verdadeira com ela mesma e seus sentimentos, se desprendendo de pessoas que tentaram reprimi-la no processo, mas também o livre arbítrio de Esti de decidir ficar na comunidade, se casar com um homem - mesmo nunca negando sua homossexualidade - e viver de acordo com sua religião.

Vemos ao longo do filme que o livre arbítrio nem sempre resulta em liberdade. As questões que tensionam Ronit, Esti e Dovid nos mostram que há vezes que precisaremos fazer escolhas que mudarão todo o curso de nossas vidas e teremos que lidar com as consequências disso. 

O filme é de uma importância tremenda para a comunidade LGBT por mostrar um romance homossexual, mas não ser sobre um romance homossexual. A homossexualidade na história é uma metáfora para a liberdade. É um filme que tem o poder de fazer qualquer pessoa se identificar com as personagens, afinal, o tema de liberdade é tanto pessoal quanto coletivo, o que torna primordial a reflexão trazida por Desobediência.

Nota: 8/10

*Isabela Faggiani é jornalista e comenta o lesbianismo no entretenimento no site Tecla SAP(atão).

1 comentários :

Um dos meus favoritos! Desfrutei muito pelo bom enredo e narrativa. Acho que a história nos surpreende. Além o elenco é incrivel! É um dos filmes com Rachel McAdams que eu mais gostei até agora. Lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus Rachel McAdams filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador como no filme A Noite do Jogo. Sendo sincera eu acho que a sua atuação é extraordinária. Recomendo! A verdade vale a pena. Se vocês são amantes da atriz e das boas histórias de ação é um filme que não devem deixar de ver.

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