Continuação se despe das necessidades de amarração de mitologia e abraça vocação ao pop.
Por Pedro Strazza.
Lançado em 2008, o primeiro Os Estranhos tinha no horror doméstico o mote central para um filme que tirava primordialmente de um caráter fabular seu maior mal-estar. O longa de Bryan Bertino (que até o momento não conseguiu superar o peso desta forte estreia na carreira) usava de uma premissa um tanto básica - casal em crise passa a ser perseguido por três completos estranhos - para criar uma narrativa que buscava o horror a princípio no inexplicável e, depois, na deturpação do conto-de-fadas às avessas que revelava ser a história.
É uma mistura que é no mínimo muito complicada de se continuar para além desta trama inicial, mas isso não impediu Bertino de ir atrás de uma continuação mesmo se ela ficasse um bom tempo entre idas e vindas no mercado. Passam-se dez anos, e com uma nova equipe criativa por trás chega agora aos cinemas este Os Estranhos - Caçada Noturna, sequência que mostra-se um tanto distante de toda a dinâmica que consagrou o original. O truque do longa dirigido por Johannes Roberts, porém, está justamente na percepção da inoperância do processo ao qual foi submetido, passando a trilhar caminhos próprios dentro de uma lógica do qual só toma emprestado do primeiro "capítulo" o imaginário visual marcante das três figuras psicopatas.
Pois por mais que o roteiro de Ben Ketai assuma a princípio grande parte das estruturas do filme anterior - seja na cartela inicial do "Baseado em eventos reais" ou na promessa de uma premissa que expanda os valores do original para o núcleo familiar - o horror proposto por Caçada Noturna é muito distinto daquele usado por Bertino há uma década. Diretor de carreira feita em terrores de baixo orçamento como Medo Profundo, Roberts aproveita desta primeira incursão por uma produção de maior destaque para fazer um slasher de via tradicional, ancorado de certa forma a muitas das convenções usadas pelo saudoso Tobe Hooper em seu primeiro O Massacre da Serra Elétrica. Ao invés de seguir pela claustrofobia gerada no desconhecido, a sequência aposta na multiplicação dos espaços (o hotel de trailers vazios é assustador pela ausência de identidade e seu consequente caráter labiríntico) e em um perfil mais terreno dos misteriosos vilões mascarados, que se aproximam aqui da imagem de um grupo de caçadores em perseguição de suas vítimas - no caso, a família de Cindy (Christina Hendricks) e Mike (Martin Henderson).
Esta emulação feita no princípio da inspiração, porém, só ganha força no longa à partir do momento que Roberts começa a revelar um desejo claro de conduzir a sequência pelo seu viés mais pop, uma medida que se por um lado demora um pouco para se firmar na narrativa também é eficaz para criar uma identidade muito distinta ao filme. Da trilha sonora equilibrada entre os sintetizadores de Adrian Johnston e músicas chiclete oitentistas ao néon que domina a fotografia de Ryan Samul, o segundo Os Estranhos é em seus melhores momentos um grande pastiche consciente e auto-satisfatório do gênero, disposto a seguir com vontade todos os joguetes estruturais que permeiam sua narrativa na mesma medida com a qual abraça o sadismo da história da forma mais estilizada e caricatural possível - a cena do confronto na piscina do hotel, por exemplo, parece se banhar na profusão de cores proveniente da violência, por sua vez filmada quase como um ritual de morte pelo cineasta.
Mas o que de fato fortalece todas estas intenções da produção, em meio a todas as perseguições e assassinatos, é a sua despreocupação com eventuais amarrações de mitologia ou mesmo de ligar-se de alguma forma a tudo que foi estabelecido visualmente e narrativamente no original. Roberts não hesita na hora de fazer cair máscaras, inverter expectativas sobre os psicopatas e dispensar toda e qualquer qualidade do primeiro Os Estranhos, uma ação tão estranha em tempos onde a imensa maioria das franquias precisam prestar reverência ou respeitar o terreno do passado de cinco em cinco minutos. É uma decisão por seguir em frente que não deixa de estar de acordo tanto com a proposta efêmera de Caçada Noturna quanto com o tributo do diretor a Hooper, que fez da sequência da trupe de Leatherface um grande escarro com o original - e a bem da verdade este segundo Os Estranhos soa bastante como um O Massacre da Serra Elétrica dirigido pelo Tobe de O Massacre da Serra Elétrica 2, como bem escancara o clímax no parque.
Pois por mais que o roteiro de Ben Ketai assuma a princípio grande parte das estruturas do filme anterior - seja na cartela inicial do "Baseado em eventos reais" ou na promessa de uma premissa que expanda os valores do original para o núcleo familiar - o horror proposto por Caçada Noturna é muito distinto daquele usado por Bertino há uma década. Diretor de carreira feita em terrores de baixo orçamento como Medo Profundo, Roberts aproveita desta primeira incursão por uma produção de maior destaque para fazer um slasher de via tradicional, ancorado de certa forma a muitas das convenções usadas pelo saudoso Tobe Hooper em seu primeiro O Massacre da Serra Elétrica. Ao invés de seguir pela claustrofobia gerada no desconhecido, a sequência aposta na multiplicação dos espaços (o hotel de trailers vazios é assustador pela ausência de identidade e seu consequente caráter labiríntico) e em um perfil mais terreno dos misteriosos vilões mascarados, que se aproximam aqui da imagem de um grupo de caçadores em perseguição de suas vítimas - no caso, a família de Cindy (Christina Hendricks) e Mike (Martin Henderson).
Esta emulação feita no princípio da inspiração, porém, só ganha força no longa à partir do momento que Roberts começa a revelar um desejo claro de conduzir a sequência pelo seu viés mais pop, uma medida que se por um lado demora um pouco para se firmar na narrativa também é eficaz para criar uma identidade muito distinta ao filme. Da trilha sonora equilibrada entre os sintetizadores de Adrian Johnston e músicas chiclete oitentistas ao néon que domina a fotografia de Ryan Samul, o segundo Os Estranhos é em seus melhores momentos um grande pastiche consciente e auto-satisfatório do gênero, disposto a seguir com vontade todos os joguetes estruturais que permeiam sua narrativa na mesma medida com a qual abraça o sadismo da história da forma mais estilizada e caricatural possível - a cena do confronto na piscina do hotel, por exemplo, parece se banhar na profusão de cores proveniente da violência, por sua vez filmada quase como um ritual de morte pelo cineasta.
Mas o que de fato fortalece todas estas intenções da produção, em meio a todas as perseguições e assassinatos, é a sua despreocupação com eventuais amarrações de mitologia ou mesmo de ligar-se de alguma forma a tudo que foi estabelecido visualmente e narrativamente no original. Roberts não hesita na hora de fazer cair máscaras, inverter expectativas sobre os psicopatas e dispensar toda e qualquer qualidade do primeiro Os Estranhos, uma ação tão estranha em tempos onde a imensa maioria das franquias precisam prestar reverência ou respeitar o terreno do passado de cinco em cinco minutos. É uma decisão por seguir em frente que não deixa de estar de acordo tanto com a proposta efêmera de Caçada Noturna quanto com o tributo do diretor a Hooper, que fez da sequência da trupe de Leatherface um grande escarro com o original - e a bem da verdade este segundo Os Estranhos soa bastante como um O Massacre da Serra Elétrica dirigido pelo Tobe de O Massacre da Serra Elétrica 2, como bem escancara o clímax no parque.
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