Crise do espião chega ao mundo globalizado em ação pelo espetáculo.
Por Pedro Strazza.
"Você é ele, né? Eu ouvi suas histórias" pergunta uma agente do IMF para o protagonista Ethan Hunt pouco antes deste conhecer sua próxima tarefa, logo no início de Missão: Impossível - Nação Secreta. É uma pergunta simples e direta, mas que, junto aos eventos ocorridos imediatamente após esta ação, serve para reforçar ao espectador o caráter lendário que o personagem interpretado por Tom Cruise criou em torno de si mesmo ao longo dos anos. Sua imagem, agora, é muito mais que a de apenas mais um espião; é a simbologia máxima do agente secreto, cujos atos são enxergados com admiração por outros.
E quem melhor do que a figura idealizada para entrar em conflito direto com o próprio sistema que representa?
Presente em Missão: Impossível desde o primeiro capítulo, este conflito entre indivíduo e organização toma enfim o centro do palco neste quinto capítulo da franquia, sendo representado por verdadeiras instituições em ambos os pólos. De um lado temos Hunt e sua equipe, que em seus integrantes encaixa todas as funções e estereótipos universais da espionagem para apoiar da melhor maneira possível seu herói nos esforços de salvar o mundo; no outro está o Sindicato, uma organização terrorista global que liderada por Solomon Lane (Sean Harris) se aproveita do caráter marginal para conseguir a derrocada do sistema e alcançar o controle político total, atuando da mesma forma que uma soberania em expansão.
É um combate maniqueísta e de certa forma um "Davi e Golias" clássico que o diretor e roteirista Christopher McQuarrie realiza aqui, mas potencializado por uma aproximação da realidade dos nossos tempos. Pois ao desvincular de vez a figura do agente da representatividade de uma nação e fazê-lo colidir com a mesma (Hunt não só precisa enfrentar o Sindicato mas também é perseguido pela CIA), o filme no fundo acende a questão do para quem o espião trabalha no mundo de hoje, marcado pela globalização e o esvaziamento de um nacionalismo racional. Talvez seja por isso que o Sindicato, uma instituição ascendente que age como uma verdadeira empresa transnacional, seja tão temerária à CIA e ao MI6, agências secretas cujos líderes são retratados no filme como peças ingênuas de um tabuleiro maior e muito mais sofisticado em relação ao passado.
Então aonde fica o espião nesse conflito macroestrutural? Sua lealdade está com quem? Qual é a sua missão nesse grande esquema das coisas? São perguntas que Hunt desesperadamente busca encontrar uma resposta enquanto tenta cumprir a missão da vez mesmo quando consciente da falta de importância que tem como ser humano nesse jogo de interesses disfarçado de gato-e-rato. Quem resume bem isso é Ilsa Faust (Rebecca Fergunson, excelente na primeira agente feminina da série a de fato ter uma participação maior na trama), outra agente em crise nesta questão de que "Sempre existirá um Solomon a ser derrotado e sempre haverão agentes como nós".
A solução encontrada por McQuarrie para esse dilema tão complexo é concentrar no objetivo humano, que posto em segundo plano neste conflito essencialmente político serve tanto para deixar ainda mais claro o reflexo de realidade do espelho fantástico como também põe em perspectiva qual o verdadeiro ponto de toda a disputa e da espionagem. Não à toa, o clímax do terceiro ato envolve primordialmente salvar uma vida e não aniquilar uma organização, que serve ainda para atestar a maior urgência do primeiro em relação ao segundo.
Mas se Missão: Impossível 5 é eficaz nessa abordagem mais política, ele também encanta por executar com excelência a ação descompromissada necessária ao gênero. Afinal, Nação Secreta traz em mãos o maior confronto entre vilão e mocinho da franquia nas figuras de Hunt e Lane, as idealizações máximas desse mundo complexo de espionagem que lutam com todas as forças para destruir o outro. Nesse ponto, a presença recorrente da cabine de fumaça se faz como lembrete literal do esquecimento consequente da derrota aqui, capaz de apagar da memória todos os grandes feitos realizados.
Além disso, McQuarrie é sagaz em fazer deste duelo existencial um verdadeiro espetáculo. Do embate de snipers na ópera em Viena à perseguição de motos no Marrocos, passando pelos planos mirabolantes empregados por Hunt e sua equipe, o diretor sabe conduzir a tensão decorrente sem se perder em exageros, e parece sempre disposto a entregar ao espectador tudo o que ele precisa saber para se entreter - e para sua sorte ele conta com Tom Cruise, um ator que vê nesse objetivo a maior de suas metas, no papel principal desse show de acrobacias.
É assim, nesta combinação sublime de atração e reflexão, que Nação Secreta se consagra como o capítulo mais interessante da série. Capaz de tornar as crises do agente dos Missão: Impossível de Brian De Palma e J.J. Abrams meros exercícios teóricos e de levar ao extremo o "mirabolantismo" das sequências de ação vistos nos episódios dirigidos por John Woo e Brad Bird, o quinto filme da franquia se usa de todos os elementos que consagraram a saga de Ethan Hunt para criar uma aventura completa, perfeita para tirar indivíduos cansados da mesmice burocrática e de seus videogames pouco imersivos.
Presente em Missão: Impossível desde o primeiro capítulo, este conflito entre indivíduo e organização toma enfim o centro do palco neste quinto capítulo da franquia, sendo representado por verdadeiras instituições em ambos os pólos. De um lado temos Hunt e sua equipe, que em seus integrantes encaixa todas as funções e estereótipos universais da espionagem para apoiar da melhor maneira possível seu herói nos esforços de salvar o mundo; no outro está o Sindicato, uma organização terrorista global que liderada por Solomon Lane (Sean Harris) se aproveita do caráter marginal para conseguir a derrocada do sistema e alcançar o controle político total, atuando da mesma forma que uma soberania em expansão.
É um combate maniqueísta e de certa forma um "Davi e Golias" clássico que o diretor e roteirista Christopher McQuarrie realiza aqui, mas potencializado por uma aproximação da realidade dos nossos tempos. Pois ao desvincular de vez a figura do agente da representatividade de uma nação e fazê-lo colidir com a mesma (Hunt não só precisa enfrentar o Sindicato mas também é perseguido pela CIA), o filme no fundo acende a questão do para quem o espião trabalha no mundo de hoje, marcado pela globalização e o esvaziamento de um nacionalismo racional. Talvez seja por isso que o Sindicato, uma instituição ascendente que age como uma verdadeira empresa transnacional, seja tão temerária à CIA e ao MI6, agências secretas cujos líderes são retratados no filme como peças ingênuas de um tabuleiro maior e muito mais sofisticado em relação ao passado.
Então aonde fica o espião nesse conflito macroestrutural? Sua lealdade está com quem? Qual é a sua missão nesse grande esquema das coisas? São perguntas que Hunt desesperadamente busca encontrar uma resposta enquanto tenta cumprir a missão da vez mesmo quando consciente da falta de importância que tem como ser humano nesse jogo de interesses disfarçado de gato-e-rato. Quem resume bem isso é Ilsa Faust (Rebecca Fergunson, excelente na primeira agente feminina da série a de fato ter uma participação maior na trama), outra agente em crise nesta questão de que "Sempre existirá um Solomon a ser derrotado e sempre haverão agentes como nós".
A solução encontrada por McQuarrie para esse dilema tão complexo é concentrar no objetivo humano, que posto em segundo plano neste conflito essencialmente político serve tanto para deixar ainda mais claro o reflexo de realidade do espelho fantástico como também põe em perspectiva qual o verdadeiro ponto de toda a disputa e da espionagem. Não à toa, o clímax do terceiro ato envolve primordialmente salvar uma vida e não aniquilar uma organização, que serve ainda para atestar a maior urgência do primeiro em relação ao segundo.
Mas se Missão: Impossível 5 é eficaz nessa abordagem mais política, ele também encanta por executar com excelência a ação descompromissada necessária ao gênero. Afinal, Nação Secreta traz em mãos o maior confronto entre vilão e mocinho da franquia nas figuras de Hunt e Lane, as idealizações máximas desse mundo complexo de espionagem que lutam com todas as forças para destruir o outro. Nesse ponto, a presença recorrente da cabine de fumaça se faz como lembrete literal do esquecimento consequente da derrota aqui, capaz de apagar da memória todos os grandes feitos realizados.
Além disso, McQuarrie é sagaz em fazer deste duelo existencial um verdadeiro espetáculo. Do embate de snipers na ópera em Viena à perseguição de motos no Marrocos, passando pelos planos mirabolantes empregados por Hunt e sua equipe, o diretor sabe conduzir a tensão decorrente sem se perder em exageros, e parece sempre disposto a entregar ao espectador tudo o que ele precisa saber para se entreter - e para sua sorte ele conta com Tom Cruise, um ator que vê nesse objetivo a maior de suas metas, no papel principal desse show de acrobacias.
É assim, nesta combinação sublime de atração e reflexão, que Nação Secreta se consagra como o capítulo mais interessante da série. Capaz de tornar as crises do agente dos Missão: Impossível de Brian De Palma e J.J. Abrams meros exercícios teóricos e de levar ao extremo o "mirabolantismo" das sequências de ação vistos nos episódios dirigidos por John Woo e Brad Bird, o quinto filme da franquia se usa de todos os elementos que consagraram a saga de Ethan Hunt para criar uma aventura completa, perfeita para tirar indivíduos cansados da mesmice burocrática e de seus videogames pouco imersivos.
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