Comédia refaz os passos do original e denota esgotamento da fórmula de criador.
Por Pedro Strazza.
É essa sensação de repetição, vale dizer, que marca a continuação de Ted, lançada pouco mais de três anos depois do lançamento do original. Além da narrativa denotar essa tendência, a própria trama do segundo capítulo parece fazer de tudo para refazer os passos de seu antecessor, e realiza aqui e ali pequenas alterações no intuito de despistar o espectador de sua estratégia. O problema é que essas mudanças não são suficientes, e a sequência soa no fim como uma versão piorada do primeiro.
Dessas modificações, a principal é a inversão de protagonismo entre Ted (mais uma vez dublado por Seth MacFarlane) e John Bennett (mais uma vez interpretado por Mark Wahlberg). Se antes era o último que liderava o arco de amadurecimento na narrativa, é agora o urso de pelúcia quem desempenha a função, já que tem seus direitos humanos ameaçados por sua condição original de produto quando resolve ter um bebê com sua esposa Tami-Lynn (mais uma vez interpretada por Jessica Barth). Para evitar a perda de sua condição e a execução de um plano maligno empreendido pela Hasbro e seu nêmesis Donny (mais uma vez interpretado por Giovanni Ribisi), Ted terá que provar sua existência no judicial, e contará com o auxílio de seu amigo de trovoada e uma bela advogada júnior (mais uma vez interpreta... quer dizer, Amanda Seyfried).
Essa é uma trama que funciona muito bem em condições normais, mas que em Ted 2 se perde com velocidade principalmente porque o personagem envolto no arco de crescimento adotado não se interessa em torná-lo real. Tratado no primeiro filme como elemento antagonista na formação humana de Bennett, o urso de pelúcia não consegue assumir de fato na continuação a figura de protagonista por ser no âmago uma figura puramente cômica, e continua a sê-la sem arriscar. Incapaz de mudar sua personalidade ou aprender qualquer lição, os atos e a mentalidade de Ted são as mesmas no início e no fim do longa.
Assim, a história é esvaziada de sentido maior, e deixa vulnerável a estrutura cômica de MacFarlane, que mais do que nunca está às vistas. Escrito como sempre em parceria de Alec Sulkin e Wellesley Wild, o diretor assume por completo no roteiro a sua plataforma televisiva, criando piadas que saem da narrativa apenas para fazer rir. E se elas não funcionam, como é o caso na maioria das vezes aqui, sobra apenas a carcaça na imagem, exposta de maneira embaraçosa ao espectador.
A sorte do filme é que quando seu diretor acerta no humor ele o faz bonito. Mais apelativo do que nunca às referências a cultura pop, Ted 2 consegue ainda arrancar boas risadas do cotidiano e do cinema, a exemplo das cenas no tribunal ("Vocês devem estar achando muito estranho ter um urso de pelúcia no banco de testemunhas sem ter uma criança apontando para ele e dizendo aonde que o adulto tocou nele, né?") e na road trip, momento onde arranja melhor espaço para situar seu tipo de humor desbocado e esquemático. O esgotamento da fórmula de MacFarlane, porém, alcança níveis críticos ao evidenciar o quão parado no tempo está, e nada mais gritante que sua estereotipação ultrapassada do nerd aliado a um verdadeiro exército de merchans nos momentos passados na Comic Con de Nova York.
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