As consequências do desejo.
Por Pedro Strazza.
Esse tipo específico de medo é o que melhor explica o monstro do filme, uma entidade misteriosa cujo método, como o título original bem resume, é o de seguir. A passos lentos e de certa maneira tranquilos, ele persegue o último elo de uma grande corrente de pessoas, que passam o fardo umas as outras pelo sexo e que tem como mais nova representante a jovem Jay Height (Maika Monroe). Assustada e temendo pela vida, ela parte junto de sua irmã Kelly (Lili Sepe) e os amigos Paul (Keil Gilchrist), Yara (Olivia Luccardi) e Greg (Daniel Zovatto) em uma jornada em busca de uma solução para sua maldição.
Essa incerteza sobre os acontecimentos, na verdade, é ao mesmo tempo a grande arma e o grande defeito de Corrente do Mal, porque é enquanto os protagonistas - e, por tabela, o espectador - permanecem na dúvida sobre a natureza do que persegue Jay que o longa consegue de fato aterrorizar com seu nevoeiro de perguntas. A sequência de abertura, no qual traz uma garota em fuga sem qualquer tipo de explicação e termina em um plano terrível, funciona justamente por deixar o público no escuro, apostando apenas no terror demonstrado pela moça e na aparente ameaça invisível que a segue.
Nesse quesito, o filme escrito e dirigido por David Robert Mitchell é bastante feliz em suas escolhas técnicas. Enquanto a fotografia paletada de azul de Mike Gioulakis funciona por do início prender a atenção do espectador ao que acontece no fundo de cena, forçando a sensação de agorafobia em planos abertos e introduzindo a criatura misteriosa muito antes da ação acontecer (algo similar em proposta com o recente Annabelle), a trilha sonora à base de sintetizadores de Rich Vreeland (creditado Disasterpeace) encanta por criar uma atmosfera pesada sem apelar para agudos, que relembra a todo momento do momento desgraçado vivido por esta realidade. A retratação do monstro (capaz de assumir várias formas) também é um ponto forte da narrativa, pois sempre se utiliza de aspectos incômodos do cotidiano - a nudez, a lembrança hospitalar, as roupas íntimas - que marcham reto em direção à sua vítima.
E esse clima de desolação não poderia ser mais adequado, já que a realidade proposta por Robert Mitchell se aproveita do período de incertezas que é os Estados Unidos da recessão. Como em Amantes Eternos e Garota Exemplar, Corrente do Mal transfigura todos os medos e receios provocados pelos efeitos físicos da crise econômica (não à toa, Detroit é palco dos eventos mostrados) em uma figura de terror, que aqui persegue a juventude sem responsabilidades e inconsequente dos erros cometidos no passado. O sexo, esse desejo de consumo supremo dessa fase da vida, torna-se portanto um mal impossível de ser evitado, cujas consequências são impossíveis de se escapar.
O problema dessa construção elaborada é que não sobra muita coisa sem o mistério. Conforme o nevoeiro de incertezas se dissipa e as dúvidas são respondidas, o filme acaba por se revelar um slasher um pouco mais sofisticado e não muito consciente de tal condição, entregue a clichês do subgênero que se acumulam consoante ao avanço da narrativa. O terceiro ato, por exemplo, soa bobo e até risível por carregar essa ingenuidade do roteiro, mesmo que seja muito bem construído do ponto de vista simbólico.
Ainda que ora ou outra caia na tentação do susto fácil - o close no buraco da porta na cena da praia é lamentável - e perca força ao explicar um pouco da natureza da ameaça, Corrente do Mal é inventivo em suas maneiras de gerar medo e na apropriação de seu contexto temporal. Sua eficiência técnica e teórica, porém, poderiam ser muito mais interessantes se este reivindicasse sua posição no gênero e trabalhasse a partir daí todo o seu mistério.
Essa incerteza sobre os acontecimentos, na verdade, é ao mesmo tempo a grande arma e o grande defeito de Corrente do Mal, porque é enquanto os protagonistas - e, por tabela, o espectador - permanecem na dúvida sobre a natureza do que persegue Jay que o longa consegue de fato aterrorizar com seu nevoeiro de perguntas. A sequência de abertura, no qual traz uma garota em fuga sem qualquer tipo de explicação e termina em um plano terrível, funciona justamente por deixar o público no escuro, apostando apenas no terror demonstrado pela moça e na aparente ameaça invisível que a segue.
Nesse quesito, o filme escrito e dirigido por David Robert Mitchell é bastante feliz em suas escolhas técnicas. Enquanto a fotografia paletada de azul de Mike Gioulakis funciona por do início prender a atenção do espectador ao que acontece no fundo de cena, forçando a sensação de agorafobia em planos abertos e introduzindo a criatura misteriosa muito antes da ação acontecer (algo similar em proposta com o recente Annabelle), a trilha sonora à base de sintetizadores de Rich Vreeland (creditado Disasterpeace) encanta por criar uma atmosfera pesada sem apelar para agudos, que relembra a todo momento do momento desgraçado vivido por esta realidade. A retratação do monstro (capaz de assumir várias formas) também é um ponto forte da narrativa, pois sempre se utiliza de aspectos incômodos do cotidiano - a nudez, a lembrança hospitalar, as roupas íntimas - que marcham reto em direção à sua vítima.
E esse clima de desolação não poderia ser mais adequado, já que a realidade proposta por Robert Mitchell se aproveita do período de incertezas que é os Estados Unidos da recessão. Como em Amantes Eternos e Garota Exemplar, Corrente do Mal transfigura todos os medos e receios provocados pelos efeitos físicos da crise econômica (não à toa, Detroit é palco dos eventos mostrados) em uma figura de terror, que aqui persegue a juventude sem responsabilidades e inconsequente dos erros cometidos no passado. O sexo, esse desejo de consumo supremo dessa fase da vida, torna-se portanto um mal impossível de ser evitado, cujas consequências são impossíveis de se escapar.
O problema dessa construção elaborada é que não sobra muita coisa sem o mistério. Conforme o nevoeiro de incertezas se dissipa e as dúvidas são respondidas, o filme acaba por se revelar um slasher um pouco mais sofisticado e não muito consciente de tal condição, entregue a clichês do subgênero que se acumulam consoante ao avanço da narrativa. O terceiro ato, por exemplo, soa bobo e até risível por carregar essa ingenuidade do roteiro, mesmo que seja muito bem construído do ponto de vista simbólico.
Ainda que ora ou outra caia na tentação do susto fácil - o close no buraco da porta na cena da praia é lamentável - e perca força ao explicar um pouco da natureza da ameaça, Corrente do Mal é inventivo em suas maneiras de gerar medo e na apropriação de seu contexto temporal. Sua eficiência técnica e teórica, porém, poderiam ser muito mais interessantes se este reivindicasse sua posição no gênero e trabalhasse a partir daí todo o seu mistério.
0 comentários :
Postar um comentário