O retorno triunfante e humano de um heroi indeciso
Por Pedro Strazza
De todos os super-herois já criados e adaptados para os cinemas, o Superman é o que tem a carreira mais difícil. Pioneiro, o Último Filho de Krypton teve duas sequencias péssimas após um início esplendoroso nas mãos de Richard Donner e com Marlon Brando e Christopher Reeve no elenco. O fracasso do terceiro e quarto filmes, porém, não apagaram as boas lembranças, e os fãs pediam de volta o estilo aventuresco de Superman I e II.
Em junho de 2006 chegava às telas a materialização desse pedido. Comandado por Bryan Singer, o heroi tentava fazer seu retorno triunfante ao meio cinematográfico, mas o próprio diretor se perdeu em meio a tantas homenagens e entregou um filme com pouca ação e qualidade, lembrando mais as películas trash do Homem de Aço que os clássicos dirigidos por Donner. Superman entrou em uma rota há pouco trilhada pelo Batman, perigando ficar conhecido como uma franquia sem chances de render bons filmes novamente.
Porém, após ver a oponente Marvel fazer mais de um bilhão com seu projeto Vingadores, a DC Comics finalmente mostrou interesse em adaptar seu universo aos cinemas, e depois do fracasso obtido com a péssima adaptação de Lanterna Verde a editora não queria mais um erro precoce, entregando o comando para Christopher Nolan, recém-saído da trilogia O Cavaleiro das Trevas e queridinho da Warner. Decidida a reinventar seu heroi mais célebre, a empresa contratou Zack Snyder para a direção e, com Nolan na produção, coordenou a dupla a trazer honra à casa de El.
Ação bem produzida
A dura missão de refazer a origem do Superman e ao mesmo tempo torná-lo novamente interessante exigiu de Snyder e Nolan muita criatividade e dedicação, e é possível notar isso já nos primeiros minutos. A sequência inicial, onde Jor-El (Russel Crowe, em impecável atuação) salva seu filho da destruição de Krypton em nada lembra o filme de 1978, substituindo a serenidade e o cenário limpo pela desolação e ação acelerada. Até a palheta de cores muda, tornando o planeta mais escuro e azulado.
Esse ritmo frenético exercido logo no início de O Homem de Aço prossegue, e, embalado pela trilha forte e poderosa de Hans Zimmer, cria uma nova visão sobre o próprio heroi, agora muito mais consciente de seu poderes. As cenas de ação também ajudam, entregando ao espectador um espetáculo de socos e destruição em massa, retratando bem o duelo travado entre os "quase deuses" Superman e Zod, que apequenam facilmente a magnitude de confrontos de animes como Dragonball Z.
As origens de um heroi
Se no físico O Homem de Aço entrega o esperado, no roteiro surpreende. Procurando novas maneiras de enxergar um personagem há muito conhecido pelo povo, David Goyer e Christopher Nolan resolveram investigar na trama o lado mais humano de Clark Kent, trazendo o estilo realista criado pela dupla na trilogia O Cavaleiro das Trevas. Porém, mudanças devem ser feitas, e agora vemos não um homem que conhece seu papel no mundo e está decidido a fazer isso, e sim o contrário. Kal-El sabe da existência de seus poderes e sua importância para o planeta, mas ainda não entende o que fazer com eles. Pior, sente-se deslocado e muitas vezes indeciso sobre seu papel na Terra.
Essa jornada de auto-descobrimento recebe um tratamento interessante nas mãos de Zack Snyder, que frustrado após o fracasso de seu primeiro projeto autoral (apesar de muito bom), emula vários estilos de outros diretores consagrados (como não reconhecer a câmera de Mallick nos flashbacks de Smallville?) para traduzir esse sentimento de um Clark solitário e perdido. O elenco do núcleo familiar também trabalha muito bem para atingir esse ponto, desde Kevin Costner (excelente como o Jonathan Kent temeroso com o futuro de seu filho) a Henry Cavill, que assume o manto com uma confiança semelhante à de Christopher Reeve em 78, criando confiança necessária no espectador para vê-lo como o Superman.
A entrada de Lois Lane na equação, porém, cria falhas pequenas no roteiro. Apesar de uma ótima atuação de Amy Adams no papel, a famosa jornalista por vezes é transformada pelos escritores numa espécie de elo entre a humanidade e os kryptonianos, prejudicando em algumas partes a continuidade e a lógica da trama apresentada. Um exemplo claro disso é o convite inesperado feito pelo General Zod (Michael Shannon, enlouquecido e perfeito no papel) para sua entrada na nave, onde sua utilidade é praticamente nula para o vilão.
"S" para esperança
Recriar interesse em um heroi como o Superman foi uma tarefa difícil para Snyder e Nolan, mas pode-se afirmar que a meta foi atingida. Ao humanizar um personagem todo poderoso, a dupla abriu novas portas para o futuro líder da Liga da Justiça (além de outras tantas para o universo da DC Comics), e mesmo não pronto para liderar a super-equipe provou a todos sua importância. O "S" grafado em seu peito não somente simboliza agora a esperança por tempos melhores em um mundo melhor, como também anuncia um futuro próspero e poderoso para um personagem há tanto abandonado e esquecido.
Nota:9/10
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