Relação mãe-e-filha é subaproveitada em prol de uma trama fraca e desconexa de Watchmen

Essa é a grande questão de Antes de Watchmen: Espectral, que explora a relação mãe-e-filha das duas Espectrais e as dificuldades de assumir o legado com responsabilidade. A minissérie escrita por Darwyn Cooke e Amanda Conner acompanha Laurie Juspeczyk em uma fuga de casa, onde sua mãe Sally Jupiter treina-a constantemente para assumir seu manto de Espectral. Esse treinamento cria uma crise de identidade em Laurie, e após brigar com sua genitora ela embarca em uma kombi para a São Francisco dos anos 60 - e dos hippies.
Novos ambientes
Um dos grandes atrativos desse prelúdio é a própria cidade. Apesar de sempre tomar o lado do povo em usas obras, Alan Moore, criador de Watchmen, nunca se interessou em mostrar muito as reinvindicações da população e seus sofrimentos. O cotidiano dessas pessoas, porém, torna-se agora fundamental, e o roteiro escrito por Cooke e Conner nessa parte cumpre bem seu papel.
O contexto em que se passa a história também merece destaque. Situando a trama no berço da cultura hippie, a dupla conseguiu superar os riscos da superficialidade histórica e cria aqui uma representação interessante de São Francisco. Seja nas festas, nos protestos ou no próprio dia-a-dia, a cidade está viva e nas ruas protestando.
Exemplo claro disso são os desenhos de Conner para a minissérie. Apesar de parecerem saídos de um estudante de faculdade em vários momentos, o traço acerta o passo quando Laurie sofre alucinações com drogas, tornando seus delírios coloridos e vibrantes.
Paz, amor e furos
A história de Antes de Watchmen: Espectral, porém, apresenta vários problemas. Apesar de focados em desenvolverem a relação familiar, a fuga de Laurie prejudica essa tênue ligação, fazendo sua mãe sumir por uma edição inteira (lembrando que são quatro) e retornar apoiada em outros personagens, como o Comediante, em uma aparição dispensável, e o primeiro Coruja. A aparição de Hollis Mason, aqui uma figura paternal para Laurie, é desnecessária e incoerente, visto que ele desempenha essa função apenas com Dan Dreiberg (como visto no prelúdio do Coruja).
Os vilões também não fazem efeito. Fracos e com motivações idiotas (motivar as vendas usando drogas? Sério?), o maligno empresário e seu assistente em nenhum momento convencem, sendo difícil até lembrar o nome deles ao final. Subaproveitados, ambos acabam tendo finais péssimos e praticamente nulos para a continuidade da obra.
Mas o pior problema dessa minissérie é com certeza seu encerramento claramente apressado. Apesar de já se perceber com o tempo que a história ali contada não levará a nada, o fim de Laurie antes de Watchmen acaba levando a uma impressão errada de não haver escapatória de seu destino pré-determinado. Essa noção de destino acaba gerando incoerência com a trama (Mas ela não tinha fugido de casa para criar seu próprio legado?) e a própria graphic novel de Alan Moore, onde têm-se uma Espectral com saudades de seus tempos de heroína e consciente de seus atos. E se não era pra criar uma origem concisa com a obra original, qual o sentido de sua existência?
Nota: 4/10
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