sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Crítica: Podres de Ricos

Comédia romântica inova clichês do gênero com elenco 100% asiático.

Por Isabela Faggiani.

Podres de Ricos, que chega essa semana aos cinemas brasileiros, foi um dos filmes mais esperados do ano, e teve um sucesso espetacular nos Estados Unidos. À primeira vista, parece que é apenas mais uma comédia romântica com uma trama conhecida: a garota de classe média baixa que se vê namorando um ricaço e precisa conquistar a aprovação da família dele, mas a história é muito mais que isso. Começando pelo fato de que quase todos os envolvidos são asiáticos ou descendentes de asiáticos, desde o diretor, John M. Chu, até os figurantes. Difícil mesmo, é achar algum caucasiano no longa. 

O filme é claramente feito para o público ocidental, com o roteiro em inglês, baseado no livro Asiáticos Podres De Ricos, de Kevin Kwan. A importância desse longa para os asiáticos que vivem no ocidente pode ser comparada à importância de Pantera Negra para o público negro. Isso ocorre porque a representação asiática nos cinemas ocidentais quase nunca foge de clichês como “o asiático nerd” ou “o lutador de artes marciais”.

A história acompanha Rachel (Constance Wu), uma professora de economia sino-americana que nunca havia viajado para o seu país de origem, apesar de falar a língua. Ela namora Nick, porém nunca havia conhecido a família dele, que mora em Singapura, até ele a convidar para o casamento de seu melhor amigo. O que ela não esperava, porém, foi a descoberta de que Nick (Henry Golding) faz parte de uma das famílias mais ricas e famosas da Ásia. O título do filme é completamente honesto nesse aspecto: a riqueza da família é imensurável.

No filme, a prima de Nick, Astrid Young (Gemma Chan), mesmo tendo a própria trama, é secundária, porém é a história dela que mostra a possibilidade de uma sequência. O livro que deu origem ao filme também a tem como personagem central e faz parte de uma trilogia. Astrid tem que lidar com seus próprios problemas e, a cena final envolvendo ela e Charlie Wu (Harry Shum Jr) apontam que podemos ver mais da família Young nas telonas.

Astrid é uma das poucas personagens que aceita e gosta de Rachel. O resto da família Young e de seus amigos e conhecidos parece não gostar da presença da jovem, principalmente a mãe, de Nick, Eleanor (Michelle Yeoh). Ela não aceita Rachel e quer que o filho volte a morar em Singapura e cuide dos negócios da família. A reprovação se dá ao fato de que Rachel não cresceu inserida na cultura e tradições asiáticas. Isso aborda uma questão importantíssima aos descendentes asiáticos: a sensação de não pertencimento.

Os descendentes de países do leste da Ásia não são vistos como estadunidenses, brasileiros, britânicos, etc., mas também não são vistos como chineses, japoneses, coreanos… Eles não são “ocidentais” o suficiente, mas ao mesmo tempo, por não terem crescido dentro da sociedade de seus pais e avós, também não são considerados parte daqueles locais.

Podres de Ricos sabe abordar muito bem o preconceito contra asiáticos de forma clara, mas sem trazer um tom dramático à trama.  A primeira cena do filme já mostra isso. Ela se passa em uma noite chuvosa na Inglaterra nos anos 90, com Eleanor e seus filhos entrando em um hotel cinco estrelas e falando que reservaram a suíte mais cara. Os funcionários do hotel se recusam a hospedar a família. Eleanor, porém, não deixa barato e logo liga para o marido, que prontamente compra o hotel, mostrando o poder aquisitivo da família.

A cultura hollywoodiana quase não admite o estrelato de pessoas que não sejam brancas, e muitas vezes tira papéis dessas minorias para colocar alguém branco no lugar, como foi o caso de A Vigilante do Amanhã, com Scarlett Johansson no papel de uma personagem japonesa. Por isso, Podres de Ricos, com seu elenco 100% asiático, é um marco na história de minorias no cinema ocidental. Ele se apresenta com uma comédia romântica de qualidade, com personagens complexos e um ótimo roteiro.

Nota: 7/10

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