quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Crítica: Operação Overlord

Terror de ação da Bad Robot flerta com o caricato, mas também o teme.

Por Alexandre Dias.


J.J. Abrams sempre foi uma espécie de elo entre as produções mais independentes e os blockbusters arrasa-quarteirões, principalmente no que se refere ao conteúdo fantástico e aventuresco. A sua produtora, a Bad Robot, é responsável pela franquia Missão: Impossível e ao mesmo tempo lançou a marca Cloverfield que, inclusive, catapultou Matt Reeves - o diretor já contratado para o próximo filme do Batman - a Hollywood. 

Nos casos de projetos com orçamentos reduzidos, especialmente aqueles relacionados ao terror, ação, sci-fi e fantasia, os realizadores em questão têm mais chance de se sobressaírem, pela necessidade de fazer muito com pouco, além da liberdade criativa ser maior, pois há menos pressão de um grande estúdio por trás. Em Operação Overlord esse contexto mesclou-se a um receio de não explosão comercial, sendo essa aspiração de que o longa fosse o próximo Deadpool o seu monstro.

Zumbis nazistas. Isso resume (e não resume) a obra. Com esta premissa é difícil trabalhar uma quebra de expectativa e fazer algo que rompa barreiras, portanto a execução do gore e da parte trash é essencial, ainda que haja um trabalho mais apurado de roteiro do que circunstâncias assim pedem. Dessa forma, a seriedade e a pseudo profundidade da trama são fatores extremamente limitantes, que criam uma burocracia desnecessária a uma história como essa.

Talvez o objetivo fosse a realização de um novo Drink no Inferno, em que o seu início segue a estrutura de um filme clássico de Quentin Tarantino e depois Robert Rodriguez dita a explosão do horror bizarro de vampiros. Se era, não ocorreu como planejado por causa da ausência dessa segunda característica, a do exagero, da galhofa. Pode-se contar nos dedos quantos zumbis aparecem. E até poderíamos entender Operação Overlord mais como uma produção de guerra do que como um terror de ação, se não fosse o fato de que há inúmeros clichês do gênero, como jump scares, e a própria insinuação constante de monstruosidades paranormais.

Mesmo este tom de O Resgate do Soldado Ryan só funciona até certo ponto, mais especificamente no primeiro ato e início do segundo. Os personagens são absolutamente desprovidos de carisma por isso, mas não por falta de potencial. Ford, por exemplo, que é interpretado pelo filho de Kurt Russell, Wyat, é barrado como o líder brucutu – tomara que continue seguindo os passos do pai - pelo moralismo usual do protagonista, Boyce (Jovan Adepo, também bom ator, mas que sofre pelo papel cansativo). Todos os outros sofrem por essas relações previsíveis e automáticas, que, já que não foram incorporadas ao grotesco, deveriam ter sido melhor trabalhadas.

E como os atores, o diretor Julius Avery demonstrou que tem talento, porém não conseguiu exibí-lo com toda a força, muito pelo roteiro mastigado de Billy Ray e Mark L. Smith. A câmera próxima dos personagens, como na ótima cena de abertura, e a disposição da ação em determinados espaços – o tiroteio noturno na floresta - comprovam que o cineasta tem uma visão de ideias, que podem ser colocadas na telona sem milhões de dólares. Apesar disso, ele se perde nos momentos em que precisa mostrar o horror e o caricato.

Aliás, o conceito dos zumbis super poderosos é inteligente e cria uma expectativa não atendida também na ação. Há um embate que acontece em um ponto da trama que gera muita empolgação não devolvida na execução. Na verdade, Operação Overlord é uma grande promessa em falso. É frustrante, porque não tinha motivo de um projeto como esse ter medo do público e da indústria, principalmente depois de dar o primeiro passo em direção à ousadia de um filme de baixo orçamento.

Nota: 4/10

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