Os melhores filmes de 2016, o ranking final do ano e algumas considerações.
Por Pedro Strazza.
Que 2016 foi um ano difícil não há dúvidas. Para onde quer que se olhe, os últimos 365 dias foram extremamente danosos, proporcionando perdas irreparáveis em todos os campos e áreas de atuação. De tragédias e mortes a Donald Trump presidente dos Estados Unidos, os momentos de horror se multiplicaram, ao passo que foram poucos os instantes de alívio.
No cinema, as péssimas notícias não vieram somente dos filmes ruins. Perdemos pessoas talentosíssimas das mais diferentes formas nestes últimos doze meses, cada falecimento sendo uma porrada mais forte. Abbas Kiarostami, Alan Rickman, Anton Yelchin, Carrie Fisher, David Bowie, Debbie Reynolds, Gene Wilder, Héctor Babenco, Michael Cimino, Zsa Zsa Gabor... foram muitos nomes, nomes demais para que qualquer um aguentasse.
Já na produção cinematográfica, 2016 revelou-se curioso e cheio de reviravoltas. Começando com uma temporada de premiações dominada por polêmicas quanto à falta de diversidade na indústria hollywoodiana e um total enigma sobre o grande vencedor do Oscar (que acabou indo para Spotlight - Segredos Revelados), o ano prosseguiu mantendo o inesperado como palavra-chave: o júri do Festival de Cannes só fez escolhas controversas para a Palma de Ouro, a safra de blockbusters hollywoodianos foi a mais má recebida em anos, Aquarius foi recebido com amor por onde quer que passasse mas viu o Ministério da Cultura escolher o desconhecido Pequeno Segredo para representar o Brasil no Oscar (que no fim morreu na praia), Batman vs Superman - A Origem da Justiça dividiu radicalmente o público e viu Deadpool superá-lo na bilheteria, o ovacionado em Sundance e até então favorito ao Oscar 2017 O Nascimento de uma Nação naufragou na corrida após seu diretor ter um caso de estupro revelado, Rogue One - Uma História Star Wars ressuscitou os mortos enquanto a Disney fazia o mesmo com a magia de suas histórias infantis.
De certa forma, o Melhores do Ano acaba por incorporar essa lei de 2016 à sua disposição, apresentando surpresas na ordenação das 156 produções aqui listadas. Embora o ano não tenha sido lá dos melhores no circuito de salas de cinema brasileiro - somente 28 obras alcançaram nota igual ou superior a 8/10 no ranking -, o top 25 possui algumas características únicas, como a presença marcante de longas asiáticos (são cinco, mais uma produção estrangeira situada no continente) e de filmes comandados por diretores com mais de 70 anos (de novo cinco mais um que está à beira de chegar a essa idade).
Do legado de 2015 pouca coisa mudou, mas há algumas boas notícias. Dos 25 melhores filmes deste ano, temos agora doze protagonizados por mulheres e vinte com personagens femininas relevantes à trama, batendo respectivamente os onze e catorze do ano passado. Na direção, nada de novo: Ainda que o número de diretoras no top 25 seja de dois agora, nos 50 primeiros lugares permanecem a mesma quantidade de quatro cineastas mulheres do ano passado (dessa vez Anna Muylaert, Deniz Gamze Ergüven, Jennifer Yuh Nelson e Mia Hansen-Løve).
Esclarecido todos estes pontos, vamos ao que interessa. Algumas observações pontuais:
- Mantendo o que foi estabelecido em 2015, a lista deste ano põe em destaque 25 produções de forma a abranger um número significativo de filmes que ao meu ver marcaram este 2016 que já se vai.
- Ao fim da contagem, disponibilizo o já tradicional ranking completo com mais doze top 10, um dedicado a cada mês do ano e seus lançamentos.
- Para entrar neste verdadeiro listão a regra é simples: o filme precisa ter estreado no circuito comercial de cinemas brasileiros nos últimos 365 dias e ter sido visto por minha pessoa. Além disso, o longa só entra se for inédito e produzido nos últimos cinco anos - o que por tabela exclui obras como Blow-Up: Depois Daquele Beijo, 8 1/2, 2001 - Uma Odisseia no Espaço e etc.
- Também no ranking de 2016 volto a incluir as revisões de nota de algumas das produções presentes na lista. Devido à urgência requerida para escrever as críticas, algumas obras geralmente não tem o tempo necessário de digestão (também conhecido como "período em que o filme permanece vivo na memória"), ganhando notas mais baixas ou mais altas. Essas revisões foram feitas por minha pessoa no decorrer do ano e estão demarcadas na lista com a nota original entre colchetes.
Enfim, vamos a eles. MAS ANTES uma pequena menção honrosa:
De certa forma, o Melhores do Ano acaba por incorporar essa lei de 2016 à sua disposição, apresentando surpresas na ordenação das 156 produções aqui listadas. Embora o ano não tenha sido lá dos melhores no circuito de salas de cinema brasileiro - somente 28 obras alcançaram nota igual ou superior a 8/10 no ranking -, o top 25 possui algumas características únicas, como a presença marcante de longas asiáticos (são cinco, mais uma produção estrangeira situada no continente) e de filmes comandados por diretores com mais de 70 anos (de novo cinco mais um que está à beira de chegar a essa idade).
Do legado de 2015 pouca coisa mudou, mas há algumas boas notícias. Dos 25 melhores filmes deste ano, temos agora doze protagonizados por mulheres e vinte com personagens femininas relevantes à trama, batendo respectivamente os onze e catorze do ano passado. Na direção, nada de novo: Ainda que o número de diretoras no top 25 seja de dois agora, nos 50 primeiros lugares permanecem a mesma quantidade de quatro cineastas mulheres do ano passado (dessa vez Anna Muylaert, Deniz Gamze Ergüven, Jennifer Yuh Nelson e Mia Hansen-Løve).
Esclarecido todos estes pontos, vamos ao que interessa. Algumas observações pontuais:
- Mantendo o que foi estabelecido em 2015, a lista deste ano põe em destaque 25 produções de forma a abranger um número significativo de filmes que ao meu ver marcaram este 2016 que já se vai.
- Ao fim da contagem, disponibilizo o já tradicional ranking completo com mais doze top 10, um dedicado a cada mês do ano e seus lançamentos.
- Para entrar neste verdadeiro listão a regra é simples: o filme precisa ter estreado no circuito comercial de cinemas brasileiros nos últimos 365 dias e ter sido visto por minha pessoa. Além disso, o longa só entra se for inédito e produzido nos últimos cinco anos - o que por tabela exclui obras como Blow-Up: Depois Daquele Beijo, 8 1/2, 2001 - Uma Odisseia no Espaço e etc.
- Também no ranking de 2016 volto a incluir as revisões de nota de algumas das produções presentes na lista. Devido à urgência requerida para escrever as críticas, algumas obras geralmente não tem o tempo necessário de digestão (também conhecido como "período em que o filme permanece vivo na memória"), ganhando notas mais baixas ou mais altas. Essas revisões foram feitas por minha pessoa no decorrer do ano e estão demarcadas na lista com a nota original entre colchetes.
Enfim, vamos a eles. MAS ANTES uma pequena menção honrosa:
Hors-Concours: Visita ou Memórias e Confissões, de Manoel de Oliveira
Por causa das regras acima citadas achei melhor deixar este último filme do falecido cineasta português de fora do ranking, mas também não queria relegá-lo ao esquecimento. Trabalho feito em 1982 para ser lançado depois de sua morte, Visita ou Memórias e Confissões serve a Manoel de Oliveira tanto como uma grande reflexão sobre sua vida (o longa trata de suas memórias e da casa onde viveu, afinal) quanto sobre o cinema ao qual tanto se dedicou, resultando em um trabalho que explora com maestria a relação do espectador com a sétima arte. Uma obra transcendental e que merece a visita.
E agora sim aos Melhores do Ano 2016:
E agora sim aos Melhores do Ano 2016:
25) A Assassina
Que o wuxia - gênero fantástico chinês que mistura lutas de espada, artes marciais e tempos medievais - no cinema tem como uma de suas bases a movimentação de seus personagens é uma constatação óbvia, mas quando alguém resolve encarar esta como força motriz única de um filme do tipo o desafio é bastante árduo. Este é o mote de A Assassina, filme do diretor taiwanês Hou Hsiao-Hsien que pega um conto tradicional chinês e, em meio a uma trama palaciana das mais confusas (e desinteressantes ao cineasta), o transforma em uma verdadeira questão de equilíbrio entre expressão e interiorização. Pela curva de aprendizado da assassina do título, Hsiao-Hsien volta a tornar o espectador atento ao movimento dos personagens, tirando dramas mal resolvidos de situações de absoluto silêncio e imobilidade para ao menor dos gestos transformar a visão que temos sobre aqueles personagens e suas histórias. Uma obra extremamente difícil, mas tão recompensadora quanto.
24) O que Está por Vir
23) O Ignorante
22) Belos Sonhos
O cineasta Marco Bellocchio voltou a tratar do mãe-e-filho italiano em 2016 com Belos Sonhos, a adaptação do romance autobiográfico do jornalista Massimo Gramellini. A análise, entretanto, está desta vez muito mais ligada a um viés interiorizado, de trauma pela separação inevitável e muitas vezes abrupta entre as duas partes, algo que o diretor logo transforma em um assombro simbólico para o protagonista tornado órfão de mãe tão cedo. Os mistérios que regem tal relação tão primordial continua intacto no cinema de Bellocchio, mas ao levantar tais questões ele desperta questionamentos individuais adormecidos em cada um de seus espectadores.
21) Cemitério do Esplendor
O tailandês Apichatpong Weerasethakul (o Joe) voltou a proporcionar mais uma fabulosa experiência cinematográfica introspectiva em 2016 com Cemitério do Esplendor. De mise-en-scène simples e ao mesmo tempo complexo em tudo que desperta, o filme traz imagens e momentos de impacto que se deslocam com fluidez ímpar e beleza subjetiva. Esvaziando cenas de movimento e prezando ao máximo pelo essencial daquilo que capta, Joe trabalha com emoções difíceis de serem descritas e tempos muito particulares, aos quais honra com uma metodologia bastante respeitosa da posição grandiosa que ocupam em seu espaço.
20) Vizinhos 2
Pelo menos do ponto de vista de atualização, Vizinhos 2 é sem dúvida alguma o ponto de virada no cinema do grupo de comediantes encabeçado por Seth Rogen e Evan Goldberg. Depois de encenar os conflitos geracionais tradicionais no primeiro capítulo, a sequência incorpora ao estilo desvairado da dupla e do diretor Nicholas Stoller questões relevante do mundo contemporâneo (feminismo, os millennials, a problematização do macho) de uma forma que eleve o duelo central da trama a um nível melhor conectado à realidade. Beneficiado por um elenco que sabe tornar seus personagens totens sociais em status de enfrentamento (Zac Efron e Chloë Grace Moretz estão ótimos) e com uma mensagem de conciliação das mais otimistas, o filme é aquilo que a comédia estadunidense precisa se espelhar para se manter funcional aos tempos difíceis que virão.
19) Cinco Graças
Filme francês dirigido, estrelado, escrito e passado na Turquia, Cinco Graças sabe muito bem como trabalhar a opressão feminina pelas tradições e ritos do país. Pela história de cinco irmãs órfãs que são submetidas a casamentos arranjados, a diretora Deniz Gamze Ergüven mantém um olhar atento sobre o enfrentamento natural entre as duas partes, guiando o espectador pela sensação de acuamento constante que as protagonistas vivem. Embora não busque o debate (a história parte de um campo maniqueísta), o sofrimento retratado na tela é suficiente para problematizar as questões apresentadas.
18) Rua Cloverfield, 10
A continuação tão esperada de Cloverfield revelou-se ser um filme de câmara dos mais satisfatórios. Ancorado por ótimas atuações de Mary Elizabeth Winstead (uma excelente atriz que decididamente precisa de melhor espaço na indústia) e John Goodman, o novato diretor Dan Trachtenberg sabe brincar muito bem a tensão crescente que se faz sobre a realidade exterior e interior vivida por seus personagens para consumá-los no fim sem nenhuma das partes soar dissonante. Tal qual o original, Rua Cloverfield, 10 demonstra um controle difícil de ser obtido sobre os espaços que ocupa.
17) Depois da Tempestade
O novo trabalho do japonês Hirokazu Koreeda é mais uma produção do país a carregar a tradição do país de análise sobre a unidade familiar, sob uma ótica que em alguns momentos remete à abordagem das obras do mestre Yasujirô Ozu. O que faz este Depois da Tempestade se destacar, porém, é a forma como o diretor encontra para desconstruir a família, que no mundo contemporâneo se encontra mudada por completo em relação àquela vista na Era de Ouro do cinema japonês e não possui mais espaço para existir. Koreeda não busca encontrar aqui uma forma de remendar as partes desassociadas da unidade, mas de equilibrá-las para mantê-la em funcionamento apesar de todos os percalços. A paz que seus personagens encontram no fim da história vem para desfazer expectativas vãs de encontrar uma família ideal sem exatamente fazê-los perder a esperança na unidade.
16) A Academia das Musas
O novo filme do espanhol José Luis Guerín é talvez o mais cabeçudo desta lista, graças a seus academicismos em torno da busca que se propõe a realizar. O eruditismo da produção, porém, é somente a base para que Academia das Musas exiba uma discussão profunda sobre a figura mitológica da musa e como esta afeta homens e mulheres. Da problematização desta presença à revelação de seu significado, o longa é exato naquilo que demonstra e evidencia sobre a condição humana.
15) Caça-Fantasmas
Todo o ódio direcionado à refilmagem de Caça-Fantasmas não conseguiu impedir Paul Feig de mais uma vez fazer o que sabe fazer de melhor. Com um time de protagonistas muito bem entrosado, o diretor de A Espiã que Sabia de Menos repetiu sua tiração de sarro com o ideal masculino com o extra de consagrar o feminino como ícone. O resultado é uma obra explosiva, que não tem medo de escrachar seus alvos por diversas modalidades de humor e tem uma nobreza de intenções que transparece na tela de maneira belíssima. Se há uma cena que permanecerá viva na memória é com certeza a do duelo da personagem de Kate McKinnon com incontáveis fantasmas masculinos que avançam contra ela.
14) Sully - O Herói do Rio Hudson
Clint Eastwood é conhecido por manter como temática de seus filmes a construção ou desconstrução do herói americano, algo que com certeza afetou a visão de muitos sobre este Sully - O Herói do Rio Hudson. O curioso do filme - que retrata os acontecimentos que cercaram o pouso de um avião em um dos rios de Nova York - é que o diretor, ainda que preso a seu protagonista, trabalha contra aquilo que origina o arquétipo que o consagrou, tornando o longa em um elogio dos mais afetuosos ao espírito coletivo. Para seu herói, vivido por Tom Hanks com competência de sobra, resta apenas sentir o peso da responsabilidade.
13) Café Society
Eterno defensor da magia (seja qual for sua forma) e do amor em seus filmes, Woody Allen trabalha Café Society sob um olhar mais sóbrio e realista. Seus amantes da vez estão condenados a nunca ficarem juntos, vítimas das circunstâncias sociais e históricas que os cercam, mas o diretor tira deste sentimento melancólico de incompletude uma bela forma de encarar o encantamento subsequente da paixão. É o que faz deste filme, a princípio formado apenas de nostalgia, em uma obra com algo a mais dentro da extensa e bem-sucedida carreira do cineasta.
12) Meu Amigo, o Dragão
Se o Mogli de Jon Favreau trouxe de volta à Disney o encanto conhecido das fábulas infantis, Meu Amigo, o Dragão representou para o estúdio a retomada dos valores profundamente atribuídos a tais contos. Emerso do cenário independente estadunidense, David Lowery refaz na refilmagem da história do menino e seu dragão o valor lendário e geracional dessas fábulas, concebendo um longa que reafirma a unidade familiar como atemporal mesmo em um ambiente contemporâneo. Pode soar antiquado, mas essa percepção do conto confere ao filme uma carga emocional incomparável, capaz de atingir adultos e crianças em igual medida.11) Elle
Seria impossível não citar nesta lista o explosivo e gerador de discórdias que é o novo trabalho do holandês Paul Verhoeven. Mais uma obra de perversidades do cineasta, Elle eleva ao nível do doentio os jogos sexuais que caracterizam o cinema do diretor, virando a mesa para os desejos sexuais dos homens em relação às mulheres. Isabelle Huppert (de novo ela!) mostra controle absoluto sobre sua personagem em um filme que Verhoeven, acima de tudo, desconstrói de novo a relação do espectador com o prazer.
10) Kubo e as Cordas Mágicas
Abrindo o top 10 de 2016, Kubo e as Cordas Mágicas comprovou para o público este ano que a Laika é um estúdio de animação a ser admirado. Da jornada do herói percorrida pelo menino do shamisen, o estreante na direção Travis Knight concebe uma história tocante e mitológica sobre conflitos familiares, traduzindo dores, anseios, expectativas frustradas e esperanças depositadas sob tamanha unidade em alegorias ilustradas por um belíssimo stop-motion. A relação de Kubo com os pais e o avô podem ser universais, mas ocupam uma esfera particular das mais intensas.
9) Creed - Nascido Para Lutar
De todos os reboots de grandes franquias hollywoodianas que se sucederam até o momento, nenhuma conseguiu acertar tanto e foi ousada no mesmo nível que Creed - Nascido Para Lutar. Preservando os elementos conhecidos da série Rocky, a continuação sob a perspectiva do filho de Apollo Creed leva a história do Garanhão Italiano para o mundo negro, criando uma jornada de provação de seu protagonista que se faz em cima deste cenário. Ao mesmo tempo, o diretor Ryan Coogler reformula e preserva o legado de Sylvester Stallone, que volta ao seu personagem mais uma vez para brilhar. Somado a um arco crescente de adrenalina e um trabalho primoroso de consagração do negro como herói, Creed é uma lição de como fazer cinema pipoca com algo a mais para dizer.
8) Águas Rasas
Sim, um shark porn foi um dos melhores filmes de 2016. Diretor que vem ganhando cada vez mais o merecido destaque, Jaume Collet-Serra realizou com Águas Rasas um exercício de gênero desconcertante, que leva o lado raso da trama (bela mulher contra tubarão assassino) a profundidades fascinantes. O cineasta espanhol alterna com esmero entre o simples e o complexo, provocando a própria posição do espectador com o subgênero que assiste sem esquecer de desempenhar este, com sets de suspense tensos que mergulham muito bem no terror daquilo que é visto e não visto.
7) Certo Agora, Errado Antes
Certo Agora, Errado Antes possui uma forma muito bela de olhar seus protagonistas, um homem e uma mulher que se conhecem por acaso e saem em um encontro certa noite. Por meio de um díptico, o coreano Hong Sang-Soo desconstrói os acontecimentos que se sucederam pela visão dos dois, enxergando somente pelo uso da câmera as aflições e vontades que tomam os dois personagens ao longo do encontro e entendendo seus perfis interiores por completo. Sang-Soo possui aqui uma percepção e compreensão difíceis de se obter e ainda mais de se reproduzir, fabricando uma concepção de paixão efêmera, universal e dolorida. E isso tudo somente pela observação.
6) A Grande Aposta
É inacreditável afirmar isso, mas se havia alguém que poderia resumir o estopim da crise econômica de 2008, este alguém era Adam McKay. Ou, pelo menos, o sentimento: Em A Grande Aposta, o diretor de O Âncora e Tudo por um Furo realiza um panorama envolvente sobre o status dos Estados Unidos da época sem precisar explicar nada sobre economia, centrando-se na missão de levar o espectador a entender como aquele desastre se sucedeu. Uma tarefa realizada com louvor, que primeiro tira sarro do cenário para depois mergulhar no caos consequente.
5) Os Oito Odiados
Em seu oitavo e a princípio antepenúltimo filme da carreira, Quentin Tarantino se envereda por um projeto ambicioso. Seu novo cabin fever faz um retrato do ódio nos Estados Unidos de outrora, criando um verdadeiro caldeirão social pronto para explodir na cabana onde oito personagens se abrigam do frio desconfiados um do outro. Uma obra grandiosa, pretensiosa na medida certa e que entrega um banho de sangue furioso - além de muito divertido.
4) Jovens, Loucos e Mais Rebeldes
Richard Linklater volta a fazer com Jovens, Loucos e Mais Rebeldes mais um panorama geracional dos Estados Unidos, mas dessa vez ele foi pra lá de específico e com objetivos muito diferentes. A princípio algo totalmente despretensioso, a história das aventuras passadas por um grupo de atletas estudantis de beisebol nos três dias finais de suas férias adquire aos poucos um sentido especial, se fazendo como um retrato não de uma década mas de um tipo social muito distinto dentro dela. Pode parecer algo inacreditável, mas o diretor de Boyhood e Escola do Rock aqui consagra o jock universitário como uma verdadeira figura mitológica, de um passado distante do qual não se desprenderá jamais.
3) Aquarius
É sem dúvida alguma o filme que definiu o Brasil em 2016, e isso não é culpa apenas das brigas que gerou. O longa de Kléber Mendonça Filho trabalha tempo e espaço de maneira ímpar, a partir da memória concebendo uma investigação emocional das mais poderosas e enriquecedoras. Mas isso não seria nada sem a atuação de Sônia Braga, que como uma Iemanjá da memória domina Aquarius e torna-se no canal ideal para seu total funcionamento.
2) As Montanhas se Separam
Filme de panorama que vai para o drama emocional sem hesitar, As Montanhas se Separam possui uma forma muito única de traçar uma relação entre o indivíduo e o sentimento nacional. Em três atos/épocas, o chinês Jia Zhangke traz a história de uma relação entre mãe e filho que precisa sobreviver ao teste do tempo e da mudança, da globalização que parece existir aqui apenas para destruir a memória de seus personagens. Do retrato da China de hoje ao drama de incomunicabilidade mais puro, o longa é uma obra complexa e de diferentes camadas, capaz de abordar temáticas universais e particulares ao mesmo tempo sem perder o fino equilíbrio que constrói. Um trabalho espetacular e significativo em diversos níveis de conhecimento.
Mas o melhor filme de 2016 foi...
Mas o melhor filme de 2016 foi...
1) Carol
O "Eu te amo" mais impactante que presenciei no cinema este ano, nesta década, talvez nesta vida. Da adaptação do romance homônimo de Patricia Highsmith, o americano Todd Haynes esboça o que pode ser considerado um dos maiores tratados sobre o amor da existência, enxergando a paixão de duas mulheres de classes e ambientes sociais diferentes pela ótica visual e somente esta. Rooney Mara e Cate Blanchett tornam-se nas mãos do diretor em verdadeiros avatares universais deste sentimento tão natural, traduzidos em movimentos, toques e olhares que vão muito além daquilo que é dito. Carol é uma obra singular naquilo que propõe, que reafirma o amor como força em tempos onde este fato parece ser cada vez mais esquecido.
Rankings
Por mês:
E a versão final do Ranking 2016 de Cinema:
- Carol (10/10)
- As Montanhas se Separam
- Aquarius
- Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (9/10)
- Os Oito Odiados
- A Grande Aposta
- Certo Agora, Errado Antes
- Águas Rasas (8/10)
- Creed - Nascido Para Lutar
- Kubo e as Cordas Mágicas [7/10 antes da revisão]
- Elle
- Meu Amigo, o Dragão
- Café Society
- Sully - O Herói do Rio Hudson
- Caça-Fantasmas
- A Academia das Musas
- Depois da Tempestade
- Rua Cloverfield, 10
- Cinco Graças
- Vizinhos 2 [9/10 antes da revisão]
- Cemitério do Esplendor
- Belos Sonhos
- O Ignorante
- O que Está por Vir
- A Assassina
- Mogli - O Menino Lobo
- Conspiração e Poder
- Desajustados [9/10 antes da revisão]
- Batman vs Superman - A Origem da Justiça (7/10)
- Creepy
- Amor e Amizade
- Mais Forte que Bombas
- Invocação do Mal 2
- Boi Neon
- Doutor Estranho
- Neruda
- Trumbo - Lista Negra
- Ave, César!
- Ouija - Origem do Mal
- X-Men - Apocalipse
- O Quarto de Jack
- Cinema Novo
- Bruxa de Blair
- O Conto dos Contos
- Mãe Só Há Uma
- Kung Fu Panda 3
- Para Minha Amada Morta
- Filho de Saul
- Como Ser Solteira
- É o Amor
- White God
- Janis Joplin - Little Girl Blue
- O Abraço da Serpente
- Body
- Tangerine (6/10)
- Brooklyn
- Mate-me Por Favor
- Nerve - Um Jogo Sem Regras
- Horizonte Profundo - Desastre no Golfo
- A Bruxa
- Julieta [5/10 antes da revisão]
- De Amor e Trevas
- 13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi
- O Dono do Jogo
- O Silêncio do Céu
- Invasão Zumbi
- Star Trek - Sem Fronteiras
- Sangue do meu Sangue
- Capitão América - Guerra Civil [7/10 antes da revisão]
- O Lobo do Deserto
- Rogue One - Uma História Star Wars
- Spotlight - Segredos Revelados
- 12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição
- Sinfonia da Necrópole
- O Nascimento de uma Nação
- Espaço Além - Marina Abramovic e o Brasil
- Procurando Dory
- A Garota no Trem
- A Última Premonição
- Dois Caras Legais
- Capitão Fantástico
- Anomalisa
- Independence Day - O Ressurgimento [8/10 antes da revisão]
- Rock em Cabul
- Steve Jobs
- A Juventude
- Jack Reacher - Sem Retorno
- A Ovelha Negra
- O Bom Dinossauro
- O Plano de Maggie
- O Bom Gigante Amigo (5/10)
- Joy - O Nome do Sucesso
- O Caçador e a Rainha de Gelo
- Tirando o Atraso [4/10 antes da revisão]
- Zootopia - Essa Cidade é o Bicho
- A Chegada
- Cães de Guerra
- O Homem nas Trevas
- Sieranevada
- Festa da Salsicha
- Animais Fantásticos e Onde Habitam
- Alice Através do Espelho
- Francofonia - Louvre Sob Ocupação
- Jason Bourne
- Fogo no Mar
- Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme
- Deadpool
- Inferno
- Florence - Quem É Essa Mulher?
- A Senhora da Van
- Tudo Vai Ficar Bem
- Futuro Junho
- Nosso Fiel Traidor
- Elis
- O Lar das Crianças Peculiares (4/10)
- O Demônio de Neon
- Os Caça-Noivas
- Negócio das Arábias
- A Última Ressaca do Ano
- Como Eu Era Antes de Você
- Irmãs
- Horas Decisivas
- Snowden - Herói ou Traidor
- Jogo do Dinheiro
- Zoolander 2
- Boneco do Mal
- A Luz Entre Oceanos
- O Caseiro
- Amor por Direito
- A Lenda de Tarzan
- Um Espião e Meio
- As Tartarugas Ninja - Fora das Sombras
- A Garota Dinamarquesa
- Quando as Luzes se Apagam
- O Botão de Pérola
- Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos
- Porta dos Fundos - Contrato Vitalício
- Um Homem Entre Gigantes
- Canção da Volta
- Pequeno Segredo
- A Maldição da Floresta (3/10)
- Zoom
- Voando Alto [2/10 antes da revisão]
- Últimos Dias no Deserto
- Orgulho e Preconceito e Zumbis
- Reza a Lenda
- Animais Noturnos
- O Regresso
- Caçadores de Emoção - Além do Limite
- Perfeita é a Mãe!
- Angry Birds - O Filme
- Boa Noite, Mamãe
- De Longe Te Observo (2/10)
- Sete Homens e um Destino
- Truque de Mestre - O Segundo Ato
- Esquadrão Suicida
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