Em seu desfecho, série retoma valores originais e paga o preço.
Por Pedro Strazza.
Os esforços da produção, entretanto, não são suficientes para ocultar do espectador essa sua identidade, que estando livre para agir não hesita em tomar o controle dos eventos mostrados e os usar a seu bel prazer. Presente desde o início, o destino do triângulo amoroso formado pela protagonista Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e seus pretendentes Gale (Liam Hemsworth) e Peeta (Josh Hutcherson) é o grande tema deste quarto e último capítulo, e se instala com conforto nos mais diferentes momentos do desfecho da saga que sempre o rechaçou.
Mas a maior presença e importância das relações juvenis na trama não é o problema principal do longa dirigido por Francis Lawrence, e sim a dificuldade em oferecer algo que se adeque a estas condições. O tabuleiro político e o jogo de sobrevivência, nos outros filmes tão importantes para a condução da história, entram em curto-circuito aqui por não se adequarem às regras da temática maior, sendo simplificadas ao máximo - na política é o desfecho inadequadamente otimista, no lúdico o pouco aproveitamento de seus poucos momentos de destaque, como bem indica a sequência nos túneis em que retoma-se a confusão visual do primeiro capítulo para (tentar) ilustrar ao espectador o que está acontecendo.
Isso tudo, claro, é feito em prol do romance, cujo protagonismo é encarado pelo longa como uma tarefa indesejável. E a repulsa não é feita à toa: tendo se destacado de tantas outras franquias juvenis por justamente ter posto os dilemas da adolescência em segundo plano, Jogos Vorazes criou ao longo de sua quadrilogia uma reputação invejável de ser a marca mais politizada dentro deste universo de adaptações literárias voltadas ao público jovem. Voltar a esse estado primordial e torná-lo protagonista dos atos, ainda que seja inevitável para a trama (vale lembrar, o triângulo é um dos motores do roteiro desde o filme de 2012), é um simbólico gesto de morte à série, que tão logo descobre essa condição já faz de tudo para suplantá-la por meio do grito, do aumento da conotação política da história.
Elevar tal carga, porém, não é suficiente, e na realidade cria danos ainda maiores para a produção. Embora busque a todo instante alguma identificação com as obras de George Orwell (antes era com 1984, agora com a Revolução dos Bichos e seus porcos de fácil sedução pelo poder), A Esperança - O Final acaba vítima da relativização, em mortes que não são sentidas e injunções políticas que soam risonhas graças a esses seus objetivos mais superficiais. O encerramento idílico, feito para agradar os maiores fãs de Katniss com um fim agridoce, ressalta sem querer o contraste, em um escapismo ao mesmo tempo natural e artificial com a situação gerada.
Os erros, entretanto, não são culpa apenas de fatores internos. A decisão de extender a transposição do último livro a duas partes, realizada por motivos puramente comerciais, torna os equívocos cometidos muito mais transparentes graças ao inevitável arrasto narrativo, cuja demora para dar cabo dos poucos fatos em mãos diluem seu impacto original.
Mas é essa necessidade de querer se levar a sério, de ser "filme de gente grande", que faz Jogos Vorazes encontrar sua perdição. Ao abandonar o evento de matança do título e o consequente lado lúdico de sua história para dar prioridade total à sua significação política (feito ao final de Em Chamas, ainda o melhor momento da série nos cinemas), a saga de Katniss deveria também ter deixado de lado suas obrigações imediatas com o público jovem, o que para esta é uma impossibilidade óbvia do princípio. No fundo, A Esperança - O Final foi uma vítima das circunstâncias, das contradições geradas pela própria franquia e seus voos de Ícaro.
Isso tudo, claro, é feito em prol do romance, cujo protagonismo é encarado pelo longa como uma tarefa indesejável. E a repulsa não é feita à toa: tendo se destacado de tantas outras franquias juvenis por justamente ter posto os dilemas da adolescência em segundo plano, Jogos Vorazes criou ao longo de sua quadrilogia uma reputação invejável de ser a marca mais politizada dentro deste universo de adaptações literárias voltadas ao público jovem. Voltar a esse estado primordial e torná-lo protagonista dos atos, ainda que seja inevitável para a trama (vale lembrar, o triângulo é um dos motores do roteiro desde o filme de 2012), é um simbólico gesto de morte à série, que tão logo descobre essa condição já faz de tudo para suplantá-la por meio do grito, do aumento da conotação política da história.
Elevar tal carga, porém, não é suficiente, e na realidade cria danos ainda maiores para a produção. Embora busque a todo instante alguma identificação com as obras de George Orwell (antes era com 1984, agora com a Revolução dos Bichos e seus porcos de fácil sedução pelo poder), A Esperança - O Final acaba vítima da relativização, em mortes que não são sentidas e injunções políticas que soam risonhas graças a esses seus objetivos mais superficiais. O encerramento idílico, feito para agradar os maiores fãs de Katniss com um fim agridoce, ressalta sem querer o contraste, em um escapismo ao mesmo tempo natural e artificial com a situação gerada.
Os erros, entretanto, não são culpa apenas de fatores internos. A decisão de extender a transposição do último livro a duas partes, realizada por motivos puramente comerciais, torna os equívocos cometidos muito mais transparentes graças ao inevitável arrasto narrativo, cuja demora para dar cabo dos poucos fatos em mãos diluem seu impacto original.
Mas é essa necessidade de querer se levar a sério, de ser "filme de gente grande", que faz Jogos Vorazes encontrar sua perdição. Ao abandonar o evento de matança do título e o consequente lado lúdico de sua história para dar prioridade total à sua significação política (feito ao final de Em Chamas, ainda o melhor momento da série nos cinemas), a saga de Katniss deveria também ter deixado de lado suas obrigações imediatas com o público jovem, o que para esta é uma impossibilidade óbvia do princípio. No fundo, A Esperança - O Final foi uma vítima das circunstâncias, das contradições geradas pela própria franquia e seus voos de Ícaro.
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