sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Crítica: Refém do Jogo

Dave Bautista estrela ação oitentista que deveria ter ficado no passado (ou nem isso).

Por Alexandre Dias.

Sylvester Stallone ainda é ativo no mercado cinematográfico pelo simples fato de saber utilizar o saudosismo ao seu favor. Os trabalhos e atuações do eterno intérprete de Rocky Balboa não tentam impor as suas características orgânicas ao modelo fílmico atual, mas sim relembrá-las. Assim, o astro continua mantendo a sua presença em projetos como algo requerido, enquanto a evolução do cinema de ação oitentista fica a cargo dos novos brutamontes que entenderam como tirar sarro deles mesmos e se divertirem, sendo os principais Vin Diesel, Jason Statham e Dwayne Johnson.

O próprio Velozes e Furiosos, protagonizado pelos três artistas em questão, prova com o seu show de mentiras e bizarrices a existência de uma vertente do blockbuster moderno, focada totalmente no entretenimento. Não é ultrapassado, ainda que ridículo. Refém do Jogo, no entanto, imprime uma aura que já não funciona mais nos dias de hoje. A parte “ruim” da obra que seria perdoada (e até celebrada) em uma época remota, como ocorreu com Sly, Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van Damme, é apenas ruim sem aspas atualmente.

Por falar em Van Damme, há a influência clara de um dos seus filmes no longa do diretor Scott Mann: Morte Súbita, de 1995. A premissa da invasão de um estádio esportivo – antes era hóquei, agora futebol - por “terroristas” permanece. A produção estrelada pelo belga também não era um triunfo da sétima arte, porém foi lançada durante o auge do artista marcial e, mais uma vez, acaba tornando as suas cafonices, vícios e clichês aceitáveis.

Estes pontos são perceptíveis no projeto de Mann principalmente por meio do roteiro de Jonathan Frank, David T. Lynch e Keith Lynch. Há o herói norte-americano atormentado pelo passado que deve voltar à ativa, o vilão russo que ficou louco com os seus ideais, a adolescente rebelde, o amigo árabe do protagonista e dessa forma continua. Sim, os estereótipos são tão batidos quanto parecem, inclusive são explicitados; a “piada” que referencia um possível homem-bomba é o exemplo máximo disso.

O texto monótono e antiquado não ajuda Mann, mas ele, do mesmo jeito, não tem nenhuma marca positiva aparente. Na franquia John Wick, Chad Stahelski e David Leitch, trabalharam com uma trama de vingança e máfias russas. Seria um grande clichê se não fosse o modo preciso de abordar o mundo dos mercenários, além de colocar a ação nas telas com a maestria de um espetáculo de dança. 

O cineasta de Refém do Jogo passa longe de promover a mesma boa identidade estética que a dupla faz. A pancadaria e os tiroteios são genéricos e não exploram bem Dave Bautista, ex-lutador gigantesco – falam o tempo inteiro sobre o seu tamanho - que teria muito a agregar como um brucutu ao estilo The Rock. Aliás, o seu personagem desajeitado quase sempre tem o benefício da sorte, sem precisar necessariamente demonstrar habilidade. Em ambientes fechados o caos é menos aparente, como é o caso da batalha no elevador, porém quando se trata do aproveitamento do espaço vemos a limitação gritante do realizador, a exemplo da medonha cena da perseguição de motos.

Enquanto isso, o bom elenco não tem como exibir o mínimo de talento pelos papéis horrorosos, vide o momento em que Bautista precisa chorar. Há certas carreiras que tem um limite e Dwayne Johnson teve essa compreensão, por isso chegou tão longe. Ele sabe até onde pode ir e que trabalhos estão a sua frente. O intérprete de Drax tem tanto potencial quanto ele e, se aprender com erros como esse, também pode alavancar como um ícone dos blockbusters modernos de ação e aventura. Vale ressaltar que os outros coadjuvantes sofrem igualmente, como o veterano Pierce Brosnan, que mal tem tempo de tela, e Ray Stevenson (o Volstagg, de Thor), ótimo ator sujeito a dar vida a um russo estereotipado. 

As referências são importantes em qualquer projeto cultural. Entretanto, elas são argumentos para a formação de algo novo, que seja uma nova referência no futuro. Obviamente, há um certo idealismo nesta afirmação, mas, de fato, não há como reproduzir só uma referência esperando que haja uma simulação de tudo de bom que ela tem. Refém do Jogo tenta reproduzir uma época, com um material de base superficial. Esperemos pelo terceiro capítulo de John Wick.

Nota: 3/10

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