O básico do básico não é suficiente para Han Solo.
Por Alexandre Dias.*
A volta de Star Wars aos cinemas não deixou de ser uma reformulação. Com uma nova mãe chamada Disney, retornar ao espírito aventuresco da trilogia original era compatível com a proposta da empresa, que também viria a promover a expansão da franquia nas telonas com os derivados e, possivelmente, vários outros projetos, como a produção que está sendo desenvolvida por Rian Johnson, diretor de Os Últimos Jedi. Esse “jeito Marvel” de lidar com a marca é uma boa aposta, mas que tem sido jogada com cautela.
As ideias de Rogue One e Han Solo – Uma História Star Wars são, em teoria, à prova de erros: uma missão referente à trama principal de Uma Nova Esperança e a origem de um dos personagens mais clássicos (e marvelescos) do universo em questão. São conceitos mais garantidos e menos arriscados, o que não significa que ambos os filmes não poderiam ser criativos ou de qualidade.
No caso do longa do malandro mais famoso do espaço, algumas características, em sua concepção, estariam praticamente implícitas: humor irônico, presença de anti-heróis, leveza e, acima de tudo, carisma. Essa última é a palavra que define o personagem que foi interpretado por Harrison Ford no passado e é o que deveria ser onipresente nesta aventura solo, independente das escolhas sobre o que contar e com quem. A falta disso é o defeito definitivo da obra.
O enredo prioriza as consequências em detrimento das causas, pois todos os fatos já conhecidos de Solo foram incorporados à história – o percurso de Kessel, a amizade com Chewbacca, os negócios com Lando. É um fator limitante, porém não é o que faz a produção ser sem graça. Tudo isso poderia ter acontecido se o roteiro de Lawrence Kasdan e Jonathan Kasdan fosse mais encorpado, especialmente no que se diz respeito à piadas e as relações entre os personagens, e as situações fossem mais empolgantes.
As cenas de ação, por exemplo, têm um potencial que não foi explorado. O assalto ao trem chega a ser um momento até inovador na franquia pelo modo como foi pensado e, apesar de satisfatório, há a constante sensação de espera por um algo a mais. Ou, por outro lado, a impressão que fica é estranha, porque existe a intenção de tornar um produto mediano em grandioso, como, nesse mesmo caso, com o elogio de Rio Durant (Jon Favreau) a Han Solo (Alden Ehrenreich) ao afirmar que ele realmente era um bom piloto, quando, na verdade, o rapaz só tinha assumido os comandos por uns dois minutos e não havia feito nenhuma manobra espetacular.
O próprio ambiente criminoso que envolve a trama conta com uma introdução muito instigante no planeta natal de Han e acaba por decepcionar, rendendo-se a artifícios mais fáceis. Em um extremo, está a necessidade de humanizar o protagonista ao colocá-lo em um romance mal desenvolvido e sustentá-lo na posição de “boa pessoa” (apenas uma vez isso soa natural, mas por conta de outro personagem), enquanto na outra ponta dessa linha está a pressão de ser um projeto de anti-heróis. Lando Calrissian é a prova máxima disso. O trapaceiro é forçado a ser mais caricato do que era com Billy Dee Williams, gerando uma interpretação esquisita de Donald Glover.
Aliás, outra atuação que deixa a desejar é a de Alden Ehrenreich. O estadunidense não faz feio, porém o carisma do artista não chega nem aos pés de Harrison Ford, que conseguiu estabelecer um co-protagonista sem grande aprofundamento como um dos grandes ícones da cultura pop. É claro que as ideias para o personagem nesse derivado foram um contribuinte para o que vemos na telona. Inclusive, de todos os outros, sendo a única boa mescla a de Woody Harrelson no papel de Beckett. O ator conseguiu transmitir seu estilo outsider ao mentor de Solo, que é o responsável por um dos pontos mais tocantes do longa-metragem ao interagir com o jovem malandro.
Com certeza, os problemas de bastidores afetaram o resultado e as decisões finais do filme. Ron Howard substituiu Phil Lord e Christopher Miller na direção, que abandonaram o cargo poucas semanas antes das filmagens estarem completas. Nunca saberemos se o trabalho deles seria melhor do que o que foi lançado, considerando que são cineastas que vieram da comédia e não seguem à risca os padrões de realização de uma produção cinematográfica como essa, algo que a Disney preza muito.
O caso é que Han Solo – Uma História Star Wars não era totalmente necessário, contudo era muito bem-vindo. Em uma época onde os Guardiões da Galáxia se tornaram uma das referências em blockbusters, seria maravilhoso ver uma história divertida e sem grandes pretensões do par romântico da Princesa Leia. De certo modo, o novo lançamento da marca Star Wars não escapa disso, ainda que esteja longe de retomar as atividades de Han Solo nos cinemas da maneira que ele merecia.
Nota: 5/10
*Alexandre Dias é jornalista e atualmente escreve no blog Arca do Cinema.
1 comentários :
O novo spin-off da saga explora as origens do contrabandista eternizado nas telas por Harrison Ford com uma aventura decente, mas repleta de respostas desnecessárias e momentos sem inspiração. Embora, eu prefiro a Harrison Ford no personagem de Han Solo, é de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores, o demonstrou em um filme que se converteu em Blade Runner 2049 um dos meus preferidos. No elenco vemos Ryan Goslind e Ana de Armas, dois dos atores mais reconhecidos de Hollywood que fazem uma grande atuação neste filme. Realmente a recomendo.
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