Quinto filme retorna ao passado em busca de nostalgia, mas se perde no caminho.
Por Pedro Strazza.
Em linhas bem gerais, O Exterminador do Futuro e sua continuação circulam toda a sua história e ação em torno da questão das relações humanas em meio ao medo do futuro do avanço tecnológico. No primeiro filme, Sarah Connor e Kyle Reese buscavam encontrar o amor enquanto fugiam da extinção, representada de forma literal por um robô assassino e auto-consciente; já em O Julgamento Final, uma versão masculinizada de Sarah tentava se reconectar com seu filho ao mesmo tempo em que ambos procuravam evitar o apocalipse nuclear. Depois disso, as duas próximas sequências, A Rebelião das Máquinas e A Salvação, não conseguiram entender o conceito por trás de seus antecessores e deram prosseguimento à trama com o único objetivo de fazer "maior e mais", levando a série a um rápido esgotamento e um inevitável fim.
O mais curioso desse processo é que, enquanto o terceiro e quarto capítulos fracassaram na tentativa de se igualar aos dois primeiros por irem atrás de novos caminhos, o quinto episódio obtém um resultado pior que estes por justamente fazer o caminho inverso. Similar à proposta de Jurassic World, O Exterminador do Futuro - Gênesis volta ao passado da franquia para criar o futuro, atualizando temas e repetindo eventos e situações dos filmes dirigidos por James Cameron em uma colagem impressionante de tão pouco eficaz.
Dessa vez, os grandes inimigos a serem enfrentados pelos Connor não são a bomba ou o automatismo, mas sim a hiperconectividade e a integração homem-máquina, representada pela figura imponente de uma Skynet humanizada, e sua forma de combate é a discussão. Afinal, quando Kyle Reese (Jai Courtney) é mandado pelo líder da resistência John Connor (Jason Clarke) para salvar sua mãe Sarah (Emilia Clarke) e encontra uma situação completamente inversa da esperada - e que inclui uma versão envelhecida do T-800 de Arnold Schwarzenegger, chamada aqui de "Pops" -, resta a ele e à mãe da resistência tentar entender como os dois se encaixam no mundo e todas as suas mudanças, sem ter ninguém além deles mesmo para poder encontrar a solução para tal questão.
Os problemas começam, porém, quando o relacionamento dos protagonistas humanos é desenvolvido de forma confusa e sem raciocínio lógico algum. Na mão dos roteiristas Laeta Kalogridis e Patrick Lussier, o núcleo do filme logo se transforma numa embolada discussão familiar, digna de um episódio dos Casos de Família se este tivesse um orçamento maior e mais propenso a explosões. Discussões sobre paternidade e evolução dos filhos não faltam, atropelando-se umas as outras na disputa pela atenção do público em longas duas horas de projeção.
Mas não basta isso para confundir o espectador. Acima de tudo, Gênesis se faz uma verdadeira salada do tempo, perdida em meio ao caos de linhas cronológicas que tenta explicar com muita dificuldade, tudo para gerar um fio de trama para conduzir seus acontecimentos. E buscar coerência nesse caso prova-se uma péssima decisão, visto que além de insuficientes para responder todos os furos elas ainda evidenciam a falta de importância e nexo da grande maioria dos personagens coadjuvantes. Como esclarecer a função do detetive policial interpretado por J.K. Simmons se este é apenas um alívio cômico forçado? E as súbitas viradas de roteiro, acumuladas aos montes (são dez, pelo menos) com o único intuito de manter o público atento à cadeia de eventos? E o T-1000 (Byung-hun Lee), posto no primeiro ato da história apenas para trazer uma ameaça a esta e nada, absolutamente nada mais?
Para piorar, o longa também sai prejudicado naquilo que é considerado por muitos a marca principal da franquia: a ação. O diretor Alan Taylor, atrás do sucesso dos trabalhos de Cameron, refaz situações dos dois primeiros capítulos com um tom maior de exagero, mas se perde na hora de coordenar o que está acontecendo em cena, abusando das aproximações nos momentos mais explosivos. O resultado disso é a mais pura confusão, com muitos movimentos incompreensíveis de personagens em brigas e atos inteiros arruinados pela artificialidade pulsante - como a perseguição dos helicópteros, que sozinha não explica seu deslocamento ou sua sequencia de ações.
Em meio a todo o desastre, porém, a produção encontra em Schwarzenegger um pilar de sustentação importante. Preso em um personagem-guia dos mais óbvios, o ator de 67 anos consegue trazer humor e imposição ao modelo T-800 que tão bem faz desde o primeiro filme. O mais interessante, entretanto, é pensar que mesmo este sendo o seu quarto personagem na série Arnold ainda é capaz de trazer ao personagem um perfil diferente o suficiente para diferenciá-lo dos outros, com salpicos aqui e ali das outras versões enviadas ao passado. Uma qualidade que a produção não encontra no restante do elenco principal, seja os canastrões Jason Clarke e Jai Courtney ou Emilia Clarke, aqui sem espaço para manobra em uma Sarah Connor reduzida a estereótipos como o da "libertação pelo amor".
Embora respeite o legado da franquia e use desta para criar sua trama, O Exterminador do Futuro - Gênesis acaba por demolir as mesmas em seu esforço quase hercúleo de tentar continuar uma história que claramente já provou estar encerrada. Ao optar pelo valor nostálgico da franquia, o quinto capítulo esquece que este processo criativo também necessita de uma construção própria para se auto-sustentar de forma satisfatória, e seu desabamento é prova cabal desta problemática.
0 comentários :
Postar um comentário