Redford entrega atuação de destaque em filme sobre sobrevivência
Por Pedro Strazza
Até o Fim é um filme que também não escapa a essa condição inerente do gênero. Seu protagonista, assim como qualquer um que se encontre na situação apresentada, dedica-se ao máximo para salvar seu navio (e sua vida, consequentemente) do naufrágio - causado por um rombo aberto no casco quando a embarcação choca-se com um contêiner perdido no mar. Mas o que difere este segundo trabalho do diretor J. C. Chandor das outras produções é justamente o caráter alegórico que seu personagem principal (Robert Redford) ganha no decorrer da obra.
O perfil deste protagonista e suas motivações para estar isolado no meio do mar desconhecidas são, assim como sua identidade, desconhecidas. E não importam muito aqui, para dizer a verdade. Ainda que forneça pistas para seu passado, o roteiro de Chandor não se esforça em analisar a vida de seu personagem, mas sim em mostrar suas ações e determinação para sobreviver em meio ao caos que a natureza o proporciona, frustrando cada tentativa sua de consertar o barco ou de escapar da solidão.
Este isolamento do marinheiro causa outra característica bastante peculiar na produção: A ausência quase total de diálogos. Raríssimo no gênero - que procura sempre encontrar alguma espécie de entidade material (Richard Parker em As Aventuras de Pi) ou imaterial (Wilson em O Náufrago) para tirar um caráter mais monótono da obra -, esse aspecto serve com excelência ao filme tanto em seu aspecto técnico como artístico. Se por um lado o silêncio providencia ao espectador a sensação que o protagonista vive ali (auxiliado por uma captação e mixagem de som fantásticos), este também cria uma sensação de estranhamento quando o personagem procura se comunicar pelo rádio ou simplesmente gritar de ódio pela sucessão de azar.
Mas quem mais se beneficia desta característica é de fato o próprio ator, peça-chave para o longa. Sem possuir um dos principais atributos de seu ramo no filme (a voz), Robert Redford mais uma vez se prova como um ator versátil e competente, criando simpatia junto do espectador na jornada de seu personagem. Mais incrível, porém, é sua capacidade de transmitir emoções usando, na esmagadora maioria do tempo, apenas de seu corpo e (principalmente) rosto, que apresenta todas as marcas e rugas de seus 77 anos.
A força psicológica do protagonista em manter-se firme diante da possível inevitabilidade da morte (cada vez mais próxima a cada tempestade) e a maneira como o roteiro e a direção de Chandor guiam a história, além da atuação magnífica de Redford, fazem deste Até o Fim uma obra peculiar acerca de um tema talvez tão óbvio ou batido. E por mais simples que a proposta desse filme pareça, o longa possui uma profundidade tão grande quanto as águas que parecem querer puxar o homem mais e mais para baixo.
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