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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Crítica: Corações de Ferro

Faroeste de desumanização.

Por Pedro Strazza.

Em um terreno baldio e sem vida, o vulto de um homem montado em um cavalo surge no horizonte esfumaçado. Cambaleante, mas buscando manter a postura de oficial, o cavaleiro faz seu animal andar em uma marcha lenta, como se quisesse encontrar alguma coisa no local. Ele dá uma guinada à direita e logo entra em uma espécie de cemitério metálico, onde corpos se acumulam em proporção semelhante a de máquinas de combate destruídos, formando juntos um silêncio interrompido somente pelo estalar das labaredas de fogo. E quando o cavaleiro julga estar sozinho nesse sepulcro, eis que um soldado pula de uma das tumbas de metal para assassiná-lo de surpresa.

Descrito acima, o plano que abre Corações de Ferro apresenta ao espectador de imediato duas características importantes do filme: sua brutalidade e seu quê de faroeste. Em seu décimo trabalho como diretor, David Ayer refaz os passos de longas como O Resgate do Soldado Ryan e Bastardos Inglórios e usa os violentos dias finais da Segunda Guerra Mundial para ambientar uma história que remete às aventuras de cowboys no Velho Oeste cinematográfico de John Wayne.

Escrita por Ayer, a trama acompanha o tanque Fury e seus cinco tripulantes, que além de morarem dentro do blindado vivem uma rotina diária de pequenos embates cheios de tensão dentro do território alemão. Com uma baixa do último conflito, Don (Brad Pitt), Bible (Shia LaBeouf), Gordo (Michael Peña) e Coon-Ass (Jon Bernthal) recebem como reposição o inexperiente Norman (Logan Lerman) e em seguida são mandados com soldados remanescentes de outras tropas para combater o inimigo em outro campo de batalha.

Usando da claustrofobia presente dentro do tanque para criar a atmosfera do longa ("só existe na vida a próxima batalha" diz um dos soldados em certo momento), Ayer aproveita o cenário de desolação para homenagear os bangue-bangues clássicos. De seus personagens, cujos apelidos resumem seus perfis e fazem referência direta a figuras típicas, à fotografia de Roman Vasyanov, que feita em película conta com todos os enquadramentos vistos em praticamente todos os longas do gênero, Corações de Ferro é uma elegia ao faroeste, feita em uma época onde não há heróis ou sequer humanos para enfrentar os vilões em decadência.

A desumanização inclusive tem grande participação na guerra propiciada pelo filme. A grandiosidade mórbida das máquinas de guerra e a violência fria batem ponto na narrativa constantemente, quase como se avisassem que o que vemos ali em cena não são pessoas, mas sim animais prontos para matar o inimigo a todo custo. A bestialidade humana, porém, é combatida por alguns com a procura da normalidade nos poucos momentos de alívio, e Ayer busca retratar isso com a maior amplitude possível - não à toa, a cena protagonizada por Norman e Don (o John Wayne concebido pelo diretor com o que tem em mãos) no apartamento de uma família alemã ganha um destaque maior para atender a esses fins.

É de sujeira, sangue e tensão que Corações de Ferro é feito, e Ayer não nega essa realidade a ele. O mundo da guerra nunca foi ou será um lugar bonito, e é capaz de tornar o homem (mesmo o mais inofensivo deles) numa verdadeira máquina sem alma. Assim como a trajetória de Norman, essa jornada não é inédita no cinema, mas ganhou aqui toques interessantes na visão de seu cineasta.

Nota: 8/10

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Crítica: Selma - Uma Luta Pela Igualdade

Retrato de Martin Luther King Jr. supera questão do racismo.

Por Pedro Strazza.

A questão negra é um tanto quanto polêmica nos Estados Unidos, e seu cinema é bastante consciente disso. Ainda hoje capaz de gerar episódios lamentáveis (como visto no recente Fruitvale Station - A Última Estação), a luta para acabar com a diferenciação racial vem de um bom tempo na terra do tio Sam, desde a época da escravidão (terreno este bastante explorado por Spielberg) até o legado desta no sul, onde os negros sofreram muito mais tempo com o preconceito da população branca que no norte - e o exemplo cinematográfico mais fresco na memória do público sobre o assunto é o oscarizado 12 Anos de Escravidão.
A essa longa lista de produções estadunidenses com o racismo em pauta se junta agora Selma, que inclusive já traz no subtítulo a luta pela igualdade promovida pela absoluta maioria de tais obras. O palco da discussão agora é a cidade-título do filme dirigido por Ava DuVernay, e o debate gira em torno do voto negro, que mesmo presente na Constituição dos EUA ainda enfrentava oposição no sul do país, o lar dos confederados e ex-escravistas. Para tentar acabar com isso, o então líder do movimento Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) inicia no local uma verdadeira guerra de conscientização para a causa, enfrentando tanto o governador do Alabama (Tim Roth) quanto o presidente Lyndon B. Johnson (Tom Wilkinson).
A maneira como o filme lida com o preconceito racial não difere muito do que já foi visto em outras obras. Afora o curioso tom ameaçador que a cor branca ganha nas mãos de DuVernay nos cenários (a cortina de fumaça, o necrotério e a própria tribuna da cidade são bons exemplos disso), Selma repete conceitos e discussões sem muita criatividade, como a opressão subjetiva dos caucasianos com os afrodescendentes ou o discurso de violência presente a todo instante nos dois lados. Mesmo a relação da mídia com a questão, ponto central na estratégia de MLK para alcançar seu objetivo, soa em muitos momentos como cíclica, e os próprios personagens apontam isso várias vezes.
O grande diferencial da produção, na verdade, reside no retrato feito de seu protagonista. Influente e decisivo para a união dos negros e a derrocada de diversos preconceitos, Martin Luther King Jr. tem sua pessoa desconstruída pelo roteiro de Paul Webb, que enaltece ao mesmo tempo sua confiança como líder nos discursos para o povo e humano quando fora de reuniões e igrejas, ressaltando suas falhas e limitações. E para esse aprofundamento se concretizar, é necessário não só a atuação eficiente de Oyelowo (preciso na incorporação dos trejeitos de seu papel), mas também a de Carmen Ejogo como a esposa Coretta, que serve de âncora familiar e amorosa para o pastor e protagoniza com ele um dos melhores diálogos do filme.
De caráter excessivamente novelesco (são muitos os personagens que entram e saem a todo instante), Selma - Uma Luta Pela Igualdade não chega a inovar no debate que procura se inserir, mas é interessante no jeito como retrata uma das figuras mais importantes da história estadunidense. Como o encerramento bem esclarece, a batalha pelo fim do racismo deixou muitos fantasmas, mas seus feitos reverberarão pela História por um bom tempo.

Nota: 7/10

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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Crítica: O Jogo da Imitação

O cinema de obviedades aplicado a uma pessoa brilhante.

Por Pedro Strazza.

O Jogo da Imitação é acima de tudo uma cinebiografia de convenções. De seus aspectos mais técnicos aos mais artísticos, o filme dirigido pelo norueguês Morten Tyldum busca em todos os momentos evitar riscos e executa a trama sem grandes floreios na narrativa. O que salva a produção do esquecimento total, porém, é a personalidade histórica que é tema do longa, cuja complexidade mesmo pouco explorada pela obra é suficiente para deixar seu público interessado.
No caso, a figura mencionada logo acima é Alan Turing, matemático inglês que além de patrono das ciências da computação foi responsável por quebrar o código criptográfico dos alemães (intitulado Enigma) na Segunda Guerra Mundial, acelerando o fim do conflito. A genialidade de Turing e suas conquistas científicas, entretanto, de nada significaram alguns anos depois, quando foi condenado por sua homossexualidade (um crime na época) e se suicidou dois anos após ser sentenciado a um tratamento hormonal obrigatório, feito para "acabar com tal obscenidade".
A personalidade do matemático daria uma interessante análise, mas o roteiro escrito por Graham Moore não dá conta disso. Adaptado do livro "Alan Turing: O Enigma", de Andrew Hodges, o filme dividi-se em três épocas distintas - a infância do protagonista, durante a Segunda Guerra e nos dias de sua condenação, todas trabalhadas sem nenhuma distinção visual entre si pelo design de produção de Maria Djurkovic - para se aprofundar no perfil de Turing, concebendo-o no início como um mistério a ser desvendado.
Mas essa elaboração inicial parece não existir na narrativa: Em nenhum momento Moore e Tyldum se esforçam em fazer de Alan um enigma, e isso se deve principalmente à ausência de profundidade em todos os personagens, postos em uma trama das mais convencionais. Está lá o protagonista de perfil esquisito, cercado por todos lados de coadjuvantes de única função e arcos previsíveis ao extremo (nem mesmo a protofeminista interpretada por Keira Knightley escapa), executados por atores que sabem muito bem o fazê-los (Matthew Goode é o gênio antagonista, Charles Dance faz o homem da lei, Mark Strong repete o tipo misterioso). As situações, conflitos, vitórias revigorantes e derrotas arrasadoras se enfileiram prontas para acontecerem na ordem esperada, causando surpresa e descontentamento no público nos momentos habituais - e se há alguma revelação, usa-se de imediato do flashback para lembrar o espectador do porquê aquilo ser surpreendente.
Dito isso, é importante ressaltar a maneira como Benedict Cumberbatch é eficaz em sua incorporação de Turing. Ainda que seu papel seja de total unidimensionalidade, o ator consegue dar ao espectador uma falsa sensação de profundidade ao matemático, graças à adaptação de determinados toques de sua postura habitualmente confiante para a fragilidade do personagem, como a voz falha e gaguejante ou a figura franzina. É um trabalho, claro, sem muito destaque se pensarmos na carreira de Cumberbatch, mas é suficiente para tirar a produção de seu marasmo criativo.
Pontuado também por um humor feito para o público se apegar à detestável pessoa de Turing e uma trilha sonora de Alexandre Desplat que não arrisca nem petisca, O Jogo da Imitação surge como mais um filme mediano sobre uma pessoa fantástica, que subjuga todo o potencial contido nesta para entregar o óbvio. Há quem curta? Sem dúvida. Mas não poderia ser algo a mais?

Nota: 6/10

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Crítica: O Destino de Júpiter

Ópera espacial dos irmãos Wachowski é prejudicada por exposição excessiva.

Por Pedro Strazza.

Criatividade é uma palavra que define muito bem a obra dos irmãos Wachowski. Consagrados no cinema com Matrix (apenas seu segundo trabalho na direção!), Andy e Lana possuem a capacidade única de conceber mundos extremamente fantasiosos que em nenhum momento soem artificiais para seu público. Com seus respectivos erros e acertos, foi assim que eles fizeram com Speed Racer e sua velocidade hiper-colorida (dotado também de uma narrativa revolucionária, mas pouco reconhecida), A Viagem e suas conexões humanas entre tempos e, claro, a trilogia Matrix e sua crítica social latente.
Não é surpresa, portanto, que O Destino de Júpiter, o sétimo filme da dupla na direção, tenha como ponto forte sua mitologia. Pela primeira vez arquitetos de um universo inteiro, os Wachowski mais uma vez demonstram seu maior talento e elaboram uma gama de mundos e personagens deslumbrantes, criados na fusão de características animalescas - as naves similares a aquários, o design de som dos tiros das armas que lembram latidos e pios, as próprias feições dos mutantes, a lista continua - com a fascinação do homem com o espaço e os mitos criados por ele a partir disso - os sinais em milharais tornam-se locais de decolagem de naves, a reconstrução rápida de cidades (indireta ao destrutivo O Homem de Aço de Zack Snyder, talvez?) ocorre depois de grandiosos conflitos, etc.
É perceptível o cuidado dos dois diretores na invenção visual de seu universo, mas parece equivocado a maneira como eles o apresentam ao público. Por mais belo e interessante que seja, o cosmos de O Destino de Júpiter não ganha muitos espaços para falar por si só, pois seus conceitos e características são constantemente introduzidos por meio de diálogos expositivos, encadeados em sequência a ponto de exaustão. A ferramenta em si não é o problema (de que outra maneira saberíamos o que é um licomutante?), mas seu uso é desproporcional ao aceitável.
E esse não é o único erro infeliz do roteiro escrito por Andy e Lana. Talvez para embasar ainda mais o caráter crítico do filme à indústria do rejuvenescimento (um dos grandes temas da produção), talvez querendo deixar mais claro sua aceitação como space opera, a dupla força em seus personagens já planos e de única função um lado caricato, ao qual seu elenco segue com facilidade. E se em alguns atores a canastrice não afeta (Sean Bean sabe muito bem lidar com ela para compor seu Stinger), em outros ela prejudica de maneira definitiva, como é o caso do vilanesco Balem, interpretado por Eddie Redmayne com toques e timbres exagerados.
Mesmo construindo algo tão único, O Destino de Júpiter peca por querer explicar demais algo que poderia ser traduzido pela imagem, um terreno tão familiar aos Wachowski - e que ainda dominam bem, como as bem trabalhadas cenas de ação evidenciam - mas pouco usado aqui. Falta ao roteiro explorar mais o fantástico desconhecido com os olhos da protagonista Jupiter (Mila Kunis), e todos os outros aspectos do longa (principalmente a trilha sonora orquestrada pelo sempre sintonizado Michael Giacchino) parecem concordar com isso.

Nota: 6/10

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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Não Perda!: Janeiro/2015

Os filmes subestimados do começo do ano!

Por Pedro Strazza.

Todo mês é a mesma coisa. Com tantos lançamentos por semana, fica difícil para o público acompanhar o ritmo e por consequência vários bons filmes acabam abandonados pelos espectadores no caminho. Não que as produções mais vistas sejam mais fracas ou coisa parecida (pelo contrário, em sua grande maioria elas são ótimas!), mas é triste ver os pequenos serem engolidos pelos grandes blockbusters sem dó alguma.
É com isso em mente que O Nerd Contra Ataca inicia a partir deste mês de janeiro o Não Perda!, série de postagens que visam destacar as estreias cinematográficas mais subestimadas. Mensalmente iremos selecionar um número não estabelecido de produções pouco vistas ou comentadas, e esse processo será independente do fato do filme ter ou não ter resenha no site.
Confira então os lançamentos "ignorados" de janeiro de 2015:

Se o celebrado Birdman de Iñarritu usou parcialmente da metalinguagem cinematográfica para construir sua história, Assayas levou este elemento ao extremo em seu novo trabalho. Com ótimas atuações de seu elenco - incluindo a de Kristen Stewart, para o delírio dos haters - e um uso maciço de simbolismos, Acima das Nuvens é outro filme que dialoga com excelência sobre o ofício do ator e seus problemas para se aprofundar no personagem, além de também contar com ironias interessantes à indústria hollywoodiana que o cinema de arte parece tanto desprezar.

  • Cássia Eller

Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, o documentário sobre a vida da cantora faz um retrato profundo e belo da intérprete de Malandragem. Tratando desde a relação de Cássia com a música até às questões mais polêmicas - mesmo aquelas ocorridas após sua morte, a exemplo do processo judicial pela guarda de seu filho -, o filme traz também entrevistas emocionantes com pessoas ligadas à protagonista, que contribuem de forma decisiva para compor o tom tocante da produção.

  • Grandes Olhos

Já há um tempo em má fase por preferir demais a forma ao conteúdo em seus filmes, Tim Burton voltou a trabalhar com histórias situadas na realidade em Grandes Olhos, a cinebiografia da pintora Margaret Keane. E mesmo que ainda peque no extravasamento de seu lado "artístico" (bastante prejudicial à atuação de Christoph Waltz), o diretor consegue manter a objetividade na narrativa e alcança neste trabalho um resultado superior à sua leva recente. Que continue progredindo assim.

  • Minúsculos

Baseada em uma série de TV francesa, a animação dirigida por Thomas Szabo e Hélène Giraud é encantadora em sua sutileza para contar seu épico diminuto (mas simples) sobre a guerra entre dois formigueiros. Sem diálogos, o longa usa muito bem do ótimo design de som para expressar as emoções de seus personagens, todos insetos de olhos estilizados que são misturados a cenários reais.

  • Timbuktu

O drama mauritano indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (o primeiro na história do país) traz além de uma belíssima fotografia (auxiliada em parte pelas belas paisagens do lugar) uma crítica ferrenha ao fundamentalismo em seu roteiro. A esperteza do diretor Abderrahmane Sissako, porém, é a de não detratar o islamismo para embasar sua opinião, mas sim a de isolá-lo da problemática abordada. Para o cineasta, a religião no poder é um mal poderoso, independente de qual credo ela acredite pertencer.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Crítica: A Mulher de Preto 2 - Anjo da Morte

Sequência troca atmosfera por susto.

Por Pedro Strazza.

Quando lançado em 2012, A Mulher de Preto foi um interessante divisor de opiniões. O filme que colocava Daniel Radcliffe contra uma fantasma em uma mansão abandonada agradou uns pela maneira como brincou com atmosfera para criar o seu terror e incomodou outros pelos sustos nada criativos. Seja como for, o longa fez sucesso nas bilheterias (arrecadou mais de 120 milhões no mundo com orçamento de 15) e sacramentou o retorno da Hammer Films, tradicional estúdio de terror inglês, ao mercado cinematográfico.
E o resultado financeiro talvez tenha sido justamente o maior responsável para o longa ganhar uma sequência quase dois anos depois. Mesmo passado 40 anos depois dos eventos do original, A Mulher de Preto 2 - Anjo da Morte repete muito dos temas e características de seu antecessor, como o protagonista com uma dramática relação com o filho (aqui perdido após o nascimento), uma sociedade movida pela perda (antes das crianças mortas pela assombração, agora pela Segunda Guerra Mundial) e uma casa aterrorizada por corredores longos e sombrios.
A repetição não é de tanto ruim; o problema é que a continuação parece mais desbalanceada que o filme com o Harry Potter. Passando quase metade de sua projeção com quase nada além de drama e sombras na parede - algo que, ao contrário da atmosfera narrativa do original, vira com velocidade algo enfadonho e difícil de se acompanhar -, o filme em seu terceiro ato se rende aos sustos óbvios, previsíveis até em angulamentos e viradas. E a Mulher de Preto, tão bem ocultada por um véu do mistério e das rápidas aparições na mão de James Watkins no primeiro capítulo, torna-se no segundo quase um serial killer slasher sob a direção de Tom Harper, gritando para a tela apenas para assustar os mais medrosos.
Outra questão mal resolvida é a própria missão da assombração, que continua nebulosa. O roteiro escrito por Jon Croker é eficiente ao trazer a Mulher de Preto como símbolo do medo e das angústias vividas pelo povo durante a guerra, mas preocupa-se tanto em solidificar esta posição que esquece de dar motivos para a criatura perseguir crianças, principalmente se levarmos em conta que as vítimas da vez são órfãs - e em decorrência não há adultos para sofrer a "dor" que motiva a vingança da entidade.
Resta então à jovem professora Eve (Phoebe Fox) usar de seu drama pessoal para se atrelar a seus alunos e gritar por eles quando em perigo. Se Mulher de Preto compensava por algo pouco explorado no terror de hoje, Anjo da Morte se rende ao aspecto mais fácil e inocente do gênero.

Nota: 4/10

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  • Annabelle: Terror atmosférico clássico reusado com algumas renovações.

HEY, Eu Quero uma Segunda Opinião!: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Um filme de Riggan Thomson, o Birdman... ou Michael Keaton, o Batman.

Por Alexandre Dias.

Quando falamos de Birdman, certamente o que pode ser afirmado é que foi produzido na melhor época possível, a que os blockbusters reinam no cinema e os atores são substituídos por celebridades. É justamente esse diálogo com a realidade que o diretor mexicano Alejandro González Iñarritu construiu de forma muito eficiente, com o auxílio de um belo elenco e por meio da alternância entre o drama e o humor.
A metalinguagem existente se inicia com a própria escolha do protagonista: Michael Keaton, que atuou como Batman em 1989 e 1992, interpreta Riggan Thomson, que foi o super-herói Birdman nos anos 90 e agora procura fazer sucesso com uma peça na Broadway.
E se longa é uma oportunidade única para Keaton “renascer”, ele não a desperdiça. Sua atuação é excelente, tanto nos momentos em que ele se perde no seu psicológico como nas suas relações sociais. O restante do elenco corresponde à altura.
O resultado disso são ótimas interações entre os personagens nas partes cômicas- em especial, as piadas referentes a outros atores- e naquelas mais dramáticas, sendo estas últimas exploradas de maneira interessante na exposição da identidade dos envolvidos; as cenas entre Mike Shiner (Edward Norton) e Sam (Emma Stone), por exemplo, apesar de serem leves por um lado, desvendam muito bem os traços de pensamento do astro de cinema contratado e da filha de Riggan.
Porém, méritos devem ser atribuídos a Iñarritu por aplicar o falso plano-sequência eterno, pois assim a ideia de entender quem os intérpretes são dentro e fora da peça fica mais clara, como se o espectador sempre estivesse nos bastidores e na plateia. Consequentemente, a principal questão do filme vem à tona: quem são estes indivíduos? Atores ou celebridades?
Birdman triunfa ao estabelecer esta indagação afinal, estamos vivendo o tempo das celebridades no entretenimento. Tempo em que uma trama qualquer, um galã, um vilão canastrão e algumas explosões podem compor um projeto cinematográfico. Assim, o limite entre o que é arte ou não estaria sendo questionado, porque apesar de Tabitha (Lindsay Duncan), uma moça que trabalha escrevendo críticas de peças para certo veículo de comunicação, por em dúvida a legitimidade de Thomson como ator, o mesmo fez sucesso por interpretar um homem-pássaro.
A “situação” de Keaton pode ter sido um grande impulso para a realização de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). Contudo não há como negar que o resultado foi muito positivo, não só por dialogar com a realidade do antigo Bruce Wayne, mas também com a indústria cultural presente nos dias atuais.

Nota: 10/10

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Crítica: Caminhos da Floresta

Indecisão geral prejudica caminho de musical.

Por Pedro Strazza.

Assim como em todos os outros gêneros, o musical tem suas próprias maneiras de se diferenciar. Seja pela forma, o estilo de canção ou a apresentação da obra em si, a classe de cinema com forte influência teatral consegue trazer para seus fãs os mais variados encantos, desde que siga fiel à sua metodologia estabelecida e não altere sua estrutura quando lhe bem convir - E apesar de existirem sim exceções à essa regra, estas são, como bem diz o termo que as define, exceções.
Posto desta maneira, os problemas para produções de tal categoria começam quando falta a elas um direcionamento que faça-a seguir seus preceitos e formatos fielmente, e Caminhos da Floresta exemplifica bem a problemática. Adaptação da peça homônima da Broadway escrita por Stephen Sondheim e James Lapine (também roteirista da versão cinematográfica), o filme dirigido por Rob Marshall - já experiente no gênero com o interessante Chicago e o curioso Nine - em vários momentos de sua narrativa parece perdido quanto a que modelo de musical ou conteúdo seguir, como se estivesse tão perdido quanto os personagens que acompanha estão na floresta.
Com a proposta de unir vários contos-de-fada em uma mesma história (terreno este já desbravado por Shrek, Fábulas, Once Upon a Time e O Fantástico Mistério de Feiurinha), Caminhos de Floresta conta a história de um Padeiro (James Corden) e sua Esposa (Emily Blunt), que, para reverter uma maldição lançada pela Bruxa (Meryl Streep, exagerada o suficiente para incomodar, mas não tanto para conseguir indicações a prêmios) e ter um filho, precisam conseguir em um espaço de três dias uma "vaca branca como o leite", uma "capa vermelha como sangue", um "fio de cabelo dourado como milho" e uma "sandália como ouro". E enquanto realizam essa busca desesperada na floresta, o casal acaba se esbarrando nas histórias clássicas de João (Daniel Huttlestone) e o Pé de Feijão, Cinderela (Anna Kendrick), Rapunzel (Mackenzie Mauzy) e Chapéuzinho Vermelho (Lilla Crawford).
Já de início o longa tem problemas sérios para estabelecer o ritmo musical de sua história. Indeciso entre seguir o caminho de somente melodia semelhante ao de Os Miseráveis (e os longos e aborrecidos 14 minutos da canção de abertura bem provam isso) ou o do esquema tradicional do gênero, o filme alterna longos momentos de cantoria com iguais espaços falados, e aos poucos torna sua narrativa enfadonha de se acompanhar. Para piorar, grande parte das músicas entoadas pelo elenco soam muito semelhantes entre si, culpa em parte de seu cuidado quase artificial dado pelo estúdio após as gravações.
O roteiro de Lapine também não é de grande auxílio aqui. Por se tratar de uma produção infantil, o autor da peça parece assumir que o público aceitará quaisquer erros de continuidade impostos e comete vários ao longo da trama, tornando a obra não só infantilizada ao extremo mas também torna-a difícil de ser compreendida em alguns momentos. Incoerências como a dos poderes da Bruxa (que desaparecem em um momento e reaparecem em outro sem qualquer explicação), o feitiço de Cinderela (fugir três noites seguidas do castelo do mesmo jeito?) ou até os feijões mágicos (cuja explicação para enfeiar a personagem de Streep passa batida), afinal, se acumulam desordenadas, e abusam constantemente da lógica do espectador.
Elaborado no visual de forma genérica (talvez para cortar custos da produção), o musical ainda é preso sem explicação a uma tridimensionalidade típica do teatro, reforçada seguidas vezes pelo diretor ao longo da trama por planos que sem explicação abrigam todos os personagens em um mesmo ambiente sem estes perceberem um ao outro. E em conjunto com o roteiro, a direção de Marshall se desequilibra entre o escárnio e a seriedade exacerbada sobre a situação apresentada, resultando em cenas hilárias cujo riso sai não por causa do filme, mas sim por seu ridículo - e aqui gosto de lembrar da apresentação do Príncipe interpretado por Chris Pine, cuja primeira fala é entoada de maneira parecida à de um psicopata.
E é desse ridículo que o longa acaba por entreter, mesmo quando inadvertidamente. Se assumisse esse viés cômico em sua totalidade e abandonasse o tradicionalismo moralista, Caminhos da Floresta talvez obteria maior êxito em sua proposta fabulesca. É um desejo feito, pelo menos, para a próxima tentativa.

Nota: 3/10

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